O sacramento da Confissão ou Penitência

1 - O sacramento da Confissão exprime um poder espiritual de perdão, poder que deve ser entendido no sentido de serviço misericordioso dado à Igreja pelo próprio Cristo naquelas passagens que se conhecem: “tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será também desligado no Céu (cf. Mt 16,19; 18-18). E ainda: “a quem perdoardes os pecados, estes serão perdoados, e a quem os retiverdes, estes serão retidos (cf. Jo 20,23), revelação bíblica esta feita em clima pascal.

2 - Como se vê, é um poder profundamente espiritual e que foi dado somente à Igreja, sem nenhum reflexo de ostentação, mas como puro serviço de gratuidade. Diga-se que no mundo ninguém é capaz de um poder assim. E a Igreja então, como Corpo Místico de Cristo, e  como instituição visível, confere esse poder a seus ministros, poder que eles passam a exercer com o seu ministério de reconciliação, este nascido com o sacramento da Ordem. Não portanto – insistimos – um poder pessoal, como muitos de nossos irmãos separados pensam, mas um poder eclesial, isto é, um poder que pertence à Igreja, colocado a serviço dos homens e da glória de Deus.
     

3 - Dentro dessas considerações, um aspecto muito interessante e que de fato muitos ignoram é que não depende da santidade do ministro para que esse poder se exerça com toda a sua plenitude. Justamente por  causa do que se falou acima: o poder é dado à Igreja, e não ao ministro isoladamente. Quem perdoa é a Igreja, através de seu ministro. Melhor ainda: quem perdoa é o próprio Deus, através de sua Igreja. Pela revelação bíblica, sabemos então que a reconciliação, através da Igreja, é uma via normal, ditada pelo próprio Deus.

4 - No rito litúrgico do sacramento, em confissão auricular, o membro da Igreja, como cristão portanto, dirige-se ao confessor e, em espírito de contrição, confessa seus pecados, especialmente os mais graves. O confessor, representando a Igreja, e verificada a atitude e o propósito do penitente, dá-lhe então a absorvição em nome da Trindade Santa, com as palavras próprias do ritual.

5 - Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “O sacramento da Confissão ou Penitência também pode ter lugar no quadro de uma  celebração comunitária, na qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a  absolvição individual são inseridas numa liturgia  da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do “Pai Nosso” e ação de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da penitência. Mas, seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é, por sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública” (cf. CIC nº 1482). Esse ensinamento do Catecismo está apoiado na Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II, em seus nºs. 26 e 27.

6 - Os ministros de Deus, saibam todos, mesmo sendo também pecadores, são ministros da reconciliação, conforme escreveu São Paulo (cf. 2Cor 5,18). A reconciliação é, pois, um ministério da Igreja. Deus, que conhece todas as nossas fraquezas, está sempre desejoso de nossa volta a Ele e aos nossos irmãos, na vida de fraternidade. Ele ouve, sim,  a confissão do pecador, confissão humilde, de quem se sente compungido, não apenas por ter ferido a santidade do Pai, com também por ter prejudicado espiritualmente a comunidade dos irmãos. O pecado, diga-se, tem consequências comunitárias e sociais, e não apenas pessoais, como muitos pensam. É como uma doença que, presente num membro do corpo, acaba atingindo todo o corpo, enfraquecendo-o. Assim, fica o corpo sujeito à mesma fragilidade do membro, e isto faz com que possamos afirmar, teologicamente, que todo pecado individual, de cada cristão, é, ao mesmo tempo, ferida que se abre no corpo eclesial.

7 - A absorvição de Deus através de sua Igreja é mais um aspecto da misericórdia infinita de nosso Pai, misericórdia que não tem, pois, limites e que sempre se acha voltada para o pecador, como ânsia divina de o salvar (cf. Mt 18,12-14; Lc 15,3-7).  

8 - Diga-se, finalmente, que, no sacramento da confissão, celebra-se a alegria de dois corações: a do oração humano, caído e humilhado, que procura o seu Deus, e a do Coração divino, repleto de misericórdia, que vem sempre ao encontro do pobre coração humano, para enchê-lo de sua plenitude, de seu perdão e de sua paz.

 

João de Araújo

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