Ciclo do Natal

1 - Na dinâmica litúrgica do Ciclo do Natal temos três momentos importantes, com características próprias, todos voltados para o evento salvífico e sacramental da Encarnação do Verbo de Deus. São eles: o Advento, como preparação; a Solenidade do Natal do Senhor, como celebração solene; e o Tempo do Natal, como prolongamento da Solenidade principal. Saibamos que a Encarnação do Filho de Deus, como acontecimento histórico, é o começo de nossa Redenção, como também garantia de sua consumação na segunda vinda de nosso Salvador. Dizendo “começo de nossa Redenção”, queremos afirmar que todas as celebrações natalinas, começando já no Advento, são também celebrações pascais. Dá-se, a seguir, um pequeno comentário sobre as partes do Ciclo do Natal.

 

ADVENTO

 

2 - O Advento é um tempo forte na Igreja, onde nos preparamos para a celebração do Natal. Tem duas características, marcadas por dois momentos. O primeiro vai do primeiro Domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã. Costuma-se chamar esse primeiro momento de Advento Escatológico. Já o segundo momento, de preparação imediata, vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Neste período, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal. Por isso, é costume chamá-lo de Advento Natalício.

 

3 - Num estudo acomodatício da história humana, poderíamos dizer que Deus preparou a Humanidade em quatro grandes períodos, de maneira progressiva, para a grande obra de redenção em seu Filho. Esses quatro períodos poderiam ser simbolizados nos quatro Domingos do Advento, e seriam: 1º) O tempo primitivo de Adão a Noé - 2º) O de Noé a Abraão - 3º) O de Abraão a Moisés – e, finalmente, o 4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo. Adão e Noé, aqui entendidos como patriarcas do gênero humano; Abraão, como patriarca do povo hebreu, com ele tendo início a caminhada da salvação (cf. Gn 12); e Moisés, como condutor do povo de Israel, na saída do Egito. Já no dado litúrgico, vemos que três personagens bíblicos sempre marcaram o tempo do Advento. São eles: o profeta Isaías, João Batista e a Santa Mãe de Deus. Por sua vez, os quatro domingos podem simbolizar também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar.

 

4 - A coroa, em sua forma circular, com suas quatro velas, é o principal símbolo do Advento. As velas, no simbolismo litúrgico, não indicam quantidade de luz, mas intensidade luminosa, crescente, à medida que se aproxima o Natal.  Por isso não se acendem todas elas já no início do Advento, mas a cada domingo uma nova vela, querendo simbolizar a intensidade crescente da luz à medida que se aproxima a Luz verdadeira, que é Cristo Jesus. Quanto à coroa do Advento, pode-se revesti-la com folhas de pinheiro. Como sabemos, o pinheiro é a única árvore que não perde as suas folhas facilmente, seja no inverno rigoroso da Alemanha, onde teve origem a coroa, seja no verão do outro hemisfério. Então o verde das folhas, que teima em não morrer, nos fala também, em linguagem simbólica, do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, simbolizando, pois, a esperança, virtude que deve estar sempre viva na vida cristã. Assim, na vivência de nossa fé, devemos também resistir a todas as intempéries da vida (problemas, angústias e agitações múltiplas), como ainda às investidas do mal.  

 

5 - É interessante notar que nos domingos do Advento canta-se o Aleluia, que é aclamação jubilosa, mas não se canta o Glória, que é também um hino jubiloso. O fato de cantarmos o Aleluia mostra, pois, o caráter não penitencial do Advento, este sempre considerado pela Igreja como um tempo de piedosa e alegre expectativa da vinda do Senhor, seja na dimensão natalícia da Encarnação, como comemoramos no Natal, seja na dimensão definitiva e escatológica do fim dos tempos. Já a omissão do Glória explica-se por um comentário antigo às Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, que diz: “no Natal, o canto dos anjos deve ressoar como algo de inteiramente novo” (cf. Adolf Adam – O Ano Litúrgico – p. 131). Se cantássemos então o Glória no Advento, no Natal tal canto não seria novidade.

 

6 - Quanto à cor litúrgica do Advento, influenciada desde o século XII pela liturgia galicana,  a Liturgia romana, oficialmente, sempre indicou a cor roxa, o que não combina, porém, com o sentido litúrgico do Advento, e  a nova IGMR (n. 346d) ainda insiste na sua indicação, facultando, porém, às Conferências Episcopais propor adaptações à Sé Apostólica. No Brasil, o Diretório da Liturgia continua trazendo a indicação do roxo, apenas indicando o róseo como opção no 3º Domingo (Gaudete), numa clara posição, pois, de indiferença, ou de esquecimento.

 

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

 

7 - A Solenidade do Natal do Senhor é a celebração principal de todo o ciclo natalino. Constitui portanto o seu centro. Jesus nasce em Belém da Judeia, em noite fria (inverno boreal), mas traz do céu o calor vitalizante da santidade de Deus, em mensagem de paz dirigida sobretudo aos pobres, com quem se identifica mais plenamente, cumulando-os das riquezas do Reino. Sua "noite feliz" sinaliza para a "noite fulgurante" da Sagrada Vigília Pascal do Sábado Santo, onde as trevas são dissipadas, definitivamente, pela luz do Ressuscitado. A Solenidade do Natal se prolonga com Oitava, isto é, tem prolongamento festivo por oito dias. No dia da celebração principal, três são as suas missas: da noite, da aurora e do dia. A seguir, são dados os textos bíblicos das três missas.

 

Missa da noite: Is 9,1-3.5-6  Sl 96(95),1-2ab.3.11-12.13   Tt 2,11-14  e  Lc 2,1-14

 

Missa da aurora: Is 62,11-12  Sl 97(96),1.6.11-12   Tt 3,4-7 e Lc 2,15-20

 

Missa do dia: Is 52,7-10  Sl 98(97),1.2-3ab.3cd-4.5-6    Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18 ou 1,1-5.9-14


8 - Numa sensibilidade não só poética, mas sobretudo teológica, podemos afirmar que no Natal o Céu se une à Terra, pois a natureza divina se une à natureza humana, através do Verbo de Deus, que se faz carne, (cf. Jo 1,14),  mistério que transcende a compreensão humana. É pura humildade de Deus e pura gratuidade do amor divino. Dizemos então que Deus não só visita o seu povo, na Pessoa de seu Filho amado, mas vem morar entre nós, para ser o Deus-Conosco, Emanuel, e assim conosco caminhar nas estradas de nossa vida, conduzindo-nos à sua morada eterna. Natal, pois, confirma a dignidade da pessoa humana, devolvendo sobretudo aos pobres e marginalizados a sua nobreza como prediletos de Deus, como foi claramente revelado aos pastores  pela mensagem do anjo (cf. Lc 2,8-12).

TEMPO DO NATAL

9 - Como o Advento, tem também o Tempo do Natal dois momentos. Um, imediato: é a Oitava do Natal, que prolonga a Solenidade natalina por oito dias, encerrando-se no dia primeiro de janeiro, Solenidade da Santa Mãe de Deus. O segundo momento vai de 2 de janeiro até a Festa do Batismo do Senhor, quando então se encerra, liturgicamente, o ciclo natalino.

 

10 - Acreditando ser útil à formação litúrgica das comunidades, são nomeadas abaixo as Festas e Solenidades do Ciclo do Natal, mas sem referência a seus textos bíblicos e a aspectos celebrativos, como também sem referências às Memórias dos santos no ciclo celebradas. Vejamos então:


No Advento - (além dos quatro domingos):

 

a) - Festa de Santo André – em 30 de novembro

b) - Solenidade da Imaculada Conceição - em 8 de dezembro (Como é Solenidade fixa, no Brasil, por concessão da Santa Sé, quando cai em domingo, no caso 2º Domingo do  Advento, é nele celebrada).

c) - Festa de Nossa Senhora de Guadalupe - em 12 de dezembro (Caindo em domingo, ela é omitida).


No Natal -  (25 de dezembro):

 

Solenidade do Natal do Senhor,  principal do ciclo natalino, com três missas e Oitava.


No Tempo do Natal:

 

São duas as Solenidades e duas também as Festas celebradas no Tempo do Natal.  São elas:

 

a) - Solenidade da Santa Mãe de Deus

É celebrada em 1º de janeiro, com a qual se encerra, como vimos, a Oitava do Natal. (Esta Solenidade e a da Imaculada Conceição estão também associadas ao Mistério da Encarnação).  

 

b) - Solenidade da Epifania

 

Epifania significa manifestação. É, pois, a manifestação de Jesus ao mundo, como salvador universal. Os magos simbolizam o conjunto das nações e dos povos. A Epifania marca, assim, a universalidade da redenção de maneira viva e simbólica. No Brasil, celebra-se a Epifania no domingo que cai entre os dias 2 a 8 de janeiro.

 

c) - Festa da Sagrada Família

 

Esta Festa é celebrada no domingo que cai entre os dias 26 e 31 de dezembro. No domingo, com o grau, pois, de Solenidade. Se não houver domingo neste período, então a Festa da Sagrada família é celebrada no dia 30 de dezembro, em qualquer dia da semana, com o seu grau próprio de Festa.

 

d) - Festa do Batismo do Senhor


11 - Com a Festa do Batismo do Senhor encerra-se o Ciclo do Natal. A data de sua celebração depende da Solenidade da Epifania. Se a Epifania for celebrada até o dia 6 de janeiro, então o Batismo do Senhor se celebra no domingo seguinte e, a exemplo da Sagrada Família, com o grau então de Solenidade. Se, porém, a Epifania for celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, então a Festa do Batismo do Senhor será celebrada no dia seguinte, isto é, na segunda-feira, com o grau próprio de Festa. A Festa do Batismo do Senhor marca o início da vida pública e missionária de Cristo.

12 - Três celebrações natalinas ainda existem, mas são comemoradas fora do Ciclo do Natal: a Festa da Apresentação do Senhor, em 2 de fevereiro, no Tempo Comum portanto; a Solenidade de São José, esposo da Santíssima Virgem, em 19 de março, e a Solenidade da Anunciação do Senhor, em 25 de março. Estas duas últimas geralmente caem na Quaresma, porém, se caírem em domingo, são transferidas para a segunda-feira. Caindo na Semana Santa, a Solenidade de São José é antecipada para o sábado anterior ao Domingo de Ramos. Já a Anunciação do Senhor, quando cai na Semana Santa, é transferida para a segunda-feira após a Oitava da Páscoa, isto porque mesmo os dias de semana que antecedem o Tríduo Pascal gozam de precedência litúrgica sobre outras celebrações.  

13 - Dentro ainda da Oitava do Natal, três Festas do Santoral são celebradas.  São elas: Santo Estêvão, diácono e protomártir, em 26 de dezembro; São João, Apóstolo e Evangelista, em 27 de dezembro; e Santos Inocentes, em 28 de dezembro. Caso, porém, o domingo caia num desses três dias, a Festa da Sagrada Família é nele celebrada, como se expôs antes, omitindo-se então a Festa do santo do dia. Para a Liturgia das Horas, na celebração dos três dias referidos,  as Vésperas são da Oitava do Natal, como também para a Hora Média prevalece a salmodia própria do dia corrente com sua antífona do Natal. Finalmente, uma observação: nas Solenidades e Festas, como também em toda a Oitava do Natal,  canta-se ou recita-se o hino Te Deum (A vós, Senhor, louvamos) no final do Ofício das Leituras, na Liturgia das Horas.

João de Araújo

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