Verdades da fé católica

NOÇÕES GERAIS SOBRE ALGUMAS VERDADES DA FÉ CATÓLICA

1 - Julgando ser útil a muitos leigos uma noção básica de algumas verdades da fé católica, com pequena fundamentação teológica, faço aqui algumas considerações, sem pretensão, porém, de estar trazendo novidades sobre o assunto, mas tão-somente um subsídio à formação de pessoas que gostariam de colocações assim.

2 - Escatologia, parusia, juízo final, morte, céu, purgatório e inferno, serão, pois, aqui comentados de maneira breve, nos pontos julgados essenciais à sua compreensão e na objetividade da fé católica.

ESCATOLOGIA

3 - Entende-se por Escatologia a temática do fim dos tempos e da história, mas não se limita ela àquilo que nos dá uma noção sistemática de fim. Diz respeito também ao "agora", ao "já" da vida humana. A Escatologia, para o cristão, começa com o Batismo e se desenvolve no dinamismo da vida cristã, orientada por uma sadia vivência evangélica, à espera do dia da ressurreição.

4 - De fato, o cristão já vive o "já" e o "ainda não" da plenitude cristã. Estas duas dimensões são, porém, vividas simultaneamente, e Santo Agostinho vai dizer: "A Igreja conhece duas vidas, que lhe foram anunciadas por Deus: uma é vivida na fé; a outra, na visão. Uma, no tempo da caminhada; outra, na mansão eterna. Uma, no trabalho; outra, no descanso. Uma, no exílio; outra, na pátria. Uma, no esforço da atividade; outra, no prêmio da contemplação".

E Santo Agostinho conclui que a primeira dimensão é representada pelo apóstolo Pedro, e a segunda pelo apóstolo João. Assim, quanto a Pedro, o evangelho vai dizer "Segue-me" (cf. Jo 21,19), isto é, assume, como eu, a cruz, e morre pelos teus, e quanto a João, o evangelho sugere que "ele permanece" (cf. Jo 21,22), ou seja, que Deus o predestinou a viver mais profundamente a dimensão contemplativa da fé cristã e do evangelho. Ambos os aspectos devem contudo, como se falou acima, estar presentes na vida do cristão, pois, se São Pedro representa o aspecto militante, de pastor, e São João o de contemplativo, de místico, ambos os apóstolos, porém, viveram as duas dimensões.

5 - Também a história humana, com suas vicissitudes, ordena-se para a Escatologia, notando-se que a Escatologia manifesta também a sua face histórica. Em síntese, podemos então dizer que a história tem uma dimensão escatológica, isto é, caminha também para a sublimação, ao mesmo tempo que a Escatologia é marcadamente histórica, quer dizer acontece positivamente na realidade temporal. E o que caracteriza a Escatologia - diga-se - não é tanto o gênero apocalíptico com que muitas vezes ela é descrita e pensada, como acontece até mesmo nos textos bíblicos, mas o novo, o transparente e sublime que ela nos traz.

6 - Pela revelação bíblica (cf. Rm 8,19-23; 2Pd 3,13; Is 65,17; 66,22; Ap 21,1), sabemos então que Deus vai criar novos céus e nova terra, não no sentido plural daquilo que já se vê aqui. Novos céus e nova terra são, em última palavra, o Reino de Deus implantado definitivamente por Cristo, onde Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28).

7 - A Escatologia confirma o relativismo e a instabilidade do mundo (cf. 1Cor 7,31; 1Jo 2,17), e assim somos chamados a buscar as realidades do alto, perenes, definitivas e eternas, nas palavras de São Paulo (cf. Rm 12,2; Cl 3,1-4). Sendo peregrinos, marchando para a Terra Prometida, não temos portanto aqui uma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir (cf. Hb 13,14; Fl 3,20). Assim, estamos no mundo, mas não somos do mundo (cf. Jo 17,16), e aqui todo país estrangeiro é nossa pátria, ao mesmo tempo que nossa própria pátria é sempre, para nós, terra estrangeira (cf. Carta a Diogneto - Século II).

PARUSIA

8 - Por Parusia devemos entender, inicialmente, a segunda vinda de Cristo, que se dará no fim dos tempos. A primeira se deu, como sabemos, no Natal. Os textos litúrgicos do Advento, até o dia 16 de dezembro, preparam os cristãos para a Parusia, como também a Solenidade de Cristo Rei, no fim do Ano Litúrgico, nos dá uma ideia bem clara dessa verdade da fé cristã.

9 - Na Parusia, Cristo não virá, porém, como salvador, a exemplo do Natal, mas virá como juiz, para julgar os vivos e os mortos, numa realeza absoluta, outorgada pelo Pai. São Cirilo de Jerusalém comenta: "Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram seus juízes". E São Paulo vai dizer-nos que Cristo então submeterá ao Pai tudo o que lhe foi confiado, e ele mesmo ao Pai se submeterá, quando então, definitivamente, Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,23-28).

10 - Também, segundo São Tiago, o juízo será sem misericórdia para os que não vivem a misericórdia, mas a misericórdia triunfa sobre o juízo (cf. Tg 2,13; 5,8-9). Para os que vivem no desamor, sem Deus, para os que vivem na impiedade, essa doutrina pode ser assustadora. Para os cristãos, porém, é fonte de eterno consolo, pois, chamados na vida a viver as bem-aventuranças, agora, no final da existência humana, são então bem-aventurados, por tê-las de fato vivido.

É interessante notar que Mateus coloca, assim, as bem-aventuranças de maneira pedagógica no seu evangelho: no início (cf. Mt 5,1-11), elas têm uma proposta de vida, no seguimento de Cristo; e, no fim (cf. Mt 25,31-46), elas são o coroamento celeste de quem plenamente as viveu.

11 - A Parusia, finalmente, deve ser vista como a volta de um rei triunfante, que visita o seu povo, para partilhar com ele os frutos de sua vitória. Este é o sentido grego também de parusia. Um rei, porém, misericordioso, no sentido cristão, e não simplesmente um juiz implacável, como às vezes acontece em muitas interpretações. Aliás, o Apocalipse, já no início, diz: "Ei-lo que vem com as nuvens" (cf. Ap 1,7a), e os cristãos, no fim do livro, respondem: "Amém. Vem, Senhor Jesus"! (cf. Ap 22,20).

JUÍZO FINAL

12 - Há um juízo final, segundo a revelação bíblica (cf. Ez 34,17; Rm 2,5-10; 2Tm 4,1; Mt 24,37; Mc 13,1-4), isto é, um julgamento universal de todas as coisas criadas, aqui presente sobretudo a vida de cada ser humano, a história de seu "sim", ou de seu "não", ao projeto do Pai. Isto se dará no fim dos tempos (Escatologia), na vinda gloriosa de Cristo (Parusia), hora só conhecida pelo Pai. "O juízo final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que o seu amor é mais forte do que a morte" (CIC 1040 e Ct 8,6).

13 - No juízo final, segundo a fé cristã, todos os corpos ressuscitarão, uns para a alegria eterna de bem-aventurados, outros para a condenação eterna. É a ressurreição da carne, como professamos no Credo. Não é, porém, a retomada do corpo humano que na Terra tivemos, pois o corpo ressuscitado será um corpo glorioso, como nos ensina São Paulo, com suas quatro características: incorruptibilidade, claridade, agilidade e espiritualidade (cf. 1Cor 15,42-44). De acordo, pois, com a fé da Igreja, "a vida não nos é tirada, mas transformada, e, desfeito o nosso corpo mortal, nos é  dado no Céu um corpo espiritual". Na volta gloriosa do Senhor, esse corpo espiritual vai ser também glorioso como o do Senhor. 

14 - Lembremo-nos de que, para o cristão, o importante não é só o juízo final, mas também o juízo particular, que se dá após a morte. Aqui já acontece a destinação eterna, para a glória ou para a condenação.

15 - No juízo final, o Rei-Juiz (Cristo) porá uns à sua direita e outros à sua esquerda, no simbolismo bíblico de ovelhas e cabritos (cf. Ez 34,17; Mt 25,31-33). Aqueles, isto é, as ovelhas, serão os eleitos; e estes, ou seja, os cabritos, serão os condenados. Os primeiros, por terem vivido as bem-aventuranças evangélicas; os segundos, por as terem desprezado.

16 - Podemos dizer, clareando um pouco ainda mais, que o juízo final já começa também aqui e agora. Se nós nos colocamos ao lado dos pobres, infelizes e injustiçados, se clamamos na vida por justiça e vivemos o amor na dimensão evangélica, então, sim, segundo o Evangelho, seremos aqueles que estarão à direita de Cristo, no reino eterno. Se, porém, fizermos o contrário, numa vida de insensibilidade fraterna, estaremos então nos colocando à sua esquerda. Na verdade, como se vê, nós é que nos colocamos à direita ou à esquerda de Cristo, por uma opção livre e consciente e, no juízo final, Cristo apenas confirmará aquilo que na vida escolhemos, e o fará com plena soberania.

MORTE

17 - A morte é um fantasma, que ronda a nossa vida. Um fantasma, portanto uma sombra. Com a morte de Cristo, no sacrifício do Calvário, a morte foi destronada e vencida, deixando de reinar, isto é, deixando de ser vitória sobre a vida. Diga-se mais: com Cristo e em Cristo, a morte transforma-se em vida. Ensina-nos a revelação bíblica que Cristo venceu a morte pela morte (cf. Jo 18,11; Mt 16,21; 17,22; 26,42; Mc 9,31; Lc 9,44), assumindo-a e enfrentando-a, mesmo às vezes com as dificuldades de aceitação da condição humana (cf. Mt 26,39), e assim ela se tornou para todos porta para a vida definitiva.

18 - O mistério cristão nos dá, pois, este sentido teológico da morte, sentido que, pleno de Deus, se torna também plenamente humano. A morte, entrando no mundo, pelo pecado, do mundo é expulsa pela graça, como nos ensina São Paulo (cf. Rm 5,12.15-17). E o mesmo São Paulo, em tom jubiloso, vai dizer, fazendo eco às palavras de Oséias: "Morte, onde está a tua vitoria? Onde está o teu aguilhão?" (cf. 1Cor 15,55; Os 13,14).

Também o Concílio Vaticano II, nos ensina: "Enquanto toda a imaginação fracassa diante da morte, a Igreja contudo, instruída pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, além dos limites da miséria terrestre" (GS 18-b). E falando do mistério que envolve a morte, o Concílio fala também de sua índole cristã (SC 81), isto é, do sentido que lhe foi dado por Cristo.

19 - A exemplo do Inferno (cf. Mt 25,41), a morte não foi criada por Deus (cf. Sb 1,13), e foi por inveja do diabo que ela entrou no mundo (cf. Sb 2,24). Enquanto, porém, o amor não vencer plenamente, a morte continuará tentando destruir os valores da vida, criando culturas que com ela se identifiquem. Tais são as chamadas culturas de morte, tão presentes hoje em nossos sistemas políticos, econômicos e sociais, como verdadeiros agentes de opressão e de exclusão.

20 - O medo da morte, mesmo com todo o sentido cristão que lhe é dado pelo Cristianismo, é compreensível, pois o ser humano não foi criado para morrer. Santo Agostinho nos diz: "Se o mal da morte fosse insignificante, não seria tão grande a glória dos mártires". Criado, pois, à imagem e semelhança de Deus, jamais poderá o ser humano aceitar o fim da vida terrena como fim simplesmente, e isto é grandemente positivo. Remido por Cristo, o cristão assume então a morte, na esperança da ressurreição, o que, diga-se, não o isenta de lutar contra a morte. Isto significa que a vida, no conceito da fé cristã, deve ser cultivada, protegida, sustentada e favorecida em todas as circunstâncias, históricas e pessoais.

21 - Um dado interessante é que, tanto pela vida como pela morte, podemos engrandecer Cristo (cf. Fl 1,20-21), e a morte jamais poderá nos separar do amor de Deus, como também não poderá fazê-lo qualquer outra criatura, visível ou invisível (cf. Rm 8,35-39). Cristo, como sabemos, é o centro do universo, da história e da vida humana. Assim, para o cristão, tanto a vida como a morte deve estar mergulhada no mistério de Cristo, conforme a rica doutrina de São Paulo, nesse sentido (cf. Rm 6,8; 2Tm 2,11pp.)

CÉU

22 - "Morada eterna dos justos", "paraíso", "seio de Abraão", "Jerusalém celeste", "pátria que brilha com a glória do Senhor", "comunhão perpétua da vida incorruptível", e mil outros nomes, jamais conseguirão dar-nos uma ideia exata do Céu. É surpresa que Deus reserva àqueles que aqui o amam. Os olhos jamais viram, os ouvidos jamais ouviram e a mente humana não será jamais capaz de perceber, em dimensões humanas, aquilo que Deus reserva para os seus eleitos (cf. 1Cor 2,9; Rm 8,18; 2Cor 4,17-18).

23 - Teologicamente, o Céu não é um lugar, em sentido geográfico, pois não pode caracterizar-se pelo espaço físico. Este, por si mesmo, poria limite àquilo que é sem limites. Não é também o Céu a realização de um sonho maravilhoso, pois, humanamente, ninguém seria capaz de sonhar tal sonho, e o Céu transcende a mais pura elevação humana. Nem pode ser a desejada concretização de um ideal, dado que o ideal humano, mesmo o mais nobre, espiritual e sublime, é sempre relativo e imperfeito.

24 - A experiência humana revela-nos um paradoxo: queremos ir para o Céu, mas não agora. Quer dizer: desejamos sempre o Céu, mas a Terra continua sendo o nosso atrativo maior. São Cipriano, no seu tratado sobre a morte, diz: "Que coisa mais fora de propósito, mais absurda: pedimos que a vontade de Deus seja feita, e quando ele nos chama e nos convida a deixar este mundo, não obedecemos logo à sua vontade". Interessante é sabermos que ao Céu ninguém chega se nele, de uma certa maneira, já não se vive. Em outras palavras: o Céu não é para depois, mas se inicia aqui. Não podemos, pois, chegar ao Céu sem uma experiência, aqui na Terra, daquilo que é celeste, ou seja, sem uma experiência profunda do amor, na dimensão evangélica. "Ganhar o Céu, depois", pode significar "Dar o Céu, antes", ou seja, amar na medida de Deus, principalmente os que são mais indignos de amor.

25 - A liturgia da Igreja nos fala de "prelibações das alegrias celestes", isto é, que nós já experimentamos na vida, antecipadamente, sobretudo nas celebrações litúrgicas, aquilo que um dia vamos viver plenamente. A consciência de participação litúrgica deve levar-nos à alegria desse dado fundamental de nossas celebrações.

26 - Finalizando, podemos dizer que o Céu é, em última palavra, o próprio Deus, vivendo em suas criaturas, no admirável mistério da Trindade, e as criaturas vivendo em Deus, na sublime participação da vida divina. Viver no Céu não significa simplesmente viver perto de Deus, mas viver em Deus, mergulhado no mistério divino e por Deus totalmente assumido.

PURGATÓRIO

27 - Como a palavra indica, Purgatório é um estado de purificação, antes de os eleitos entrarem na posse definitiva de Deus, ou seja, da visão beatífica, na eternidade (LG 49). É uma purificação, não em um lugar, mas em Deus. Um sofrimento, é verdade, mas no amor. No purgatório, se assim podemos dizer, existe não só esperança, mas a firme certeza do amor de Deus. É, assim, um estado intermediário entre a vida terrena e a vida da glória, após a morte. Quem está no Purgatório é eleito de Deus e, mesmo sem contemplá-lo ainda face a face, já sente a grandeza do amor divino.

28 - O estado de purgação para as pessoas não ainda em estado de graça plena ajusta-se à natureza de Deus, o qual habita numa luz inacessível (cf. 1Tm 6,16), sendo luz em plenitude e todo santidade. Assim, o pecado venial, mesmo leve e perdoável, exclui a pessoa do convívio divino. Isto, é claro, provisoriamente. A existência, pois, do Purgatório é mais uma iniciativa do favor divino, que não quer excluir ninguém da felicidade eterna.

29 - Diante do já aqui exposto, o Purgatório não é, pois, como muitos erroneamente entendem, um estado de condenação, mas de purificação, e quem nele se encontra é um eleito de Deus e participa da plena comunhão dos santos. Daí o valor da oração pelos mortos, como a Igreja coloca em suas orações e em sua liturgia.

30 - Na Bíblia não há uma revelação plena e explícita do Purgatório, mas sua existência é evidenciada por alguns textos (cf. 2Mc 12,43-45; 1Cor 3,15, p. ex.). Aliás, sem a plena realidade do Purgatório, não teríamos como entender a perícope de 2Mc, aqui citada, como não seria explicável, teologicamente, o sacrifício expiatório de que fala.

31 - A Igreja, no seu magistério universal, sempre se referiu ao Purgatório, de maneira positiva, e a celebração de Finados recebe na liturgia grau de solenidade, como o das grandes celebrações litúrgicas. Aqui podemos falar da comunhão dos santos, como verdade sublime da fé cristã, pois os fiéis falecidos, que se encontram em estado de purificação, estão em comunhão com os que ainda militam na Terra, como também com os bem-aventurados no Céu. O Purgatório é um dado de fé, que somente o Cristianismo sustenta e, de acordo com o que foi aqui explicitado, não tem nada de comum com outras posições religiosas sobre os mortos.

INFERNO

32 - Escreveu um monge de nosso tempo que no Inferno não existe comunhão. Daí, ser Inferno. A única comunhão possível no Inferno, segundo o monge, é a do ódio. No Inferno todos se odeiam mutuamente. Odeia-se também no outro aquilo que se odeia em si mesmo. É claro que a linguagem aqui é alegórica e simbólica, como se conclui pelas considerações abaixo. 

33 - A tragicidade do Inferno está no fato de ser ele o oposto da predestinação dos eleitos de Deus, na felicidade que Deus pensou para aqueles que o amam. Como sabemos, o ser humano foi criado para a alegria eterna, mas, livre, pode optar por uma vida sem Deus, a qual, aqui mesmo, já se traduz por uma vida infernal. Inferno é, pois, "estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados" (CIC 1033).

34 - Deus não criou o Inferno, nem para ele predestina ninguém. Os réprobos, como antes os anjos decaídos (cf. 2Pd 2,4; Jd 6), pela auto-exclusão de que se falou acima, é que nele se lançam, dada a miséria do pecado. Inferno é, portanto, rejeição de Deus, abismo sem retorno, caracterizando-se pela ausência total do amor, a maior desgraça a que pode chegar um ser criado. O Concílio Vaticano II refere-se a ele, em linguagem simples, como "condenação eterna" e "trevas exteriores" (LG 16; 48c), lembrando o próprio Evangelho (cf. Mt 22,13; 25,30).

35 - Costuma-se chamar de inferno as guerras no mundo. De fato, elas nos dão uma ideia do ambiente infernal, mas - vejamos - é apenas uma ideia, uma pálida imagem de sua realidade trágica. Isto mostra que o Inferno, teologicamente, é o fruto mais cruel do "mistério da iniquidade" (cf. 2Ts 2,7). Não é apenas o oposto do Céu, mas a triste realidade em que um ser criado se vê na impossibilidade de amar e de ser amado. Criado por amor, para o amor e destinado ao amor eterno, a ausência definitiva desse dado da fé constitui, pois, para o ser humano aquilo que chamamos, na limitação verbal, de Inferno. Conclui-se, pois, que, ao contrário do Purgatório, no Inferno não existe a menor sombra de esperança, ou seja, nenhuma porta possível de acesso à felicidade. "A ameaça do Inferno diz apenas que de tal modo Deus é a fonte, que ninguém pode fechar-se a Ele sem eternamente morrer de sede". É de se esperar que ninguém se condene eternamente, por uma recusa radical ao projeto divino. 

36 - Segundo um pensador cristão, se no Inferno a morte quisesse morrer, sentir-se-ia eternamente viva, e se a vida quisesse viver, ver-se-ia eternamente morta. Esse pensamento mostra o absurdo existencial que é o Inferno.

37 - Síntese das reflexões

ESCATOLOGIA

Um fim que já se encontra no início, e um início que se sublima no fim. É o mistério da vida cristã a jorrar do mistério de Deus. Dinâmica salvífica, que faz da vida humana história de paz e de salvação.

PARUSIA

Uma vinda para a qual se requer vigilância, mas que se traduz em primavera de paz. Nela aparecem na claridade de Cristo os frutos da redenção.

JUÍZO FINAL

Não "acerto de contas", mas louvor às vidas de bem-aventuranças. A soberania definitiva de Cristo na vitória definitiva do amor.

MORTE

Rainha destronada e que não mais impera. Bruxa que, com o sacrifício de Cristo, se transforma em fada, na história da salvação.

PURGATÓRIO

Sofrimento passageiro, no amor, com passaporte já visado para a eternidade celeste.

INFERNO

Eterna ausência do amor. Eterna ausência de Deus. Abismo do nada e da infelicidade total.

CÉU

Reino eterno de amor, sem lágrimas e sem sofrimento. Jerusalém Celeste, onde se cantam, em uníssono, os eternos aleluias pascais.


BIBLIOGRAFIA:

1 - Bíblia Sagrada
2 - Concílio Vaticano II
3 - Catecismo da Igreja Católica
4 - Novas Sementes de Contemplação (Tomaz Merton)
5 - Ritual das Exéquias

João de Araújo

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