(Para refletir)
Não passavas, no início, de uma pobre vivente. Eras feia e não causavas afeto. Ninguém se comovia por ti. Não tinhas realmente formosura. Não merecias sorrisos nem flores nem palmas, e os poetas não te dedicavam poemas. Não inspiravas canções, nem fazias brotar versos nas almas líricas. Precisavas mudar. Estavas ainda para nascer de verdade. Tua realidade externa era apenas o invólucro que cobria uma beleza escondida!
Sonho? Fantasia? Irrealidade? Mero consolo de um ideal sepultado?
Não. Profunda verdade no plano de teu Criador.
Na força da fé, segundo Deus,
ou no impulso instintivo, segundo os homens,
acreditaste então
que voarias também,
que verias outros céus,
que embelezarias os prados
e que até distrairias os homens, fazendo-os correr atrás de ti.
Serias, depois, objeto de coleção.
E te recolheste na vida.
Num casebre escondido,
sem som de guitarras,
qual alma piedosa fizeste um retiro.
E o tempo passou. E, com o tempo, toda a mentira.
Aquele ser asqueroso, irreal, morreu para sempre.
Num rito de paz, com lampejos de luz, eis que surge então um ser colorido
brincando com a vida,
na liberdade voando
e alegrando os jardins.
No mistério da vida,
em milagre de amor,
chegaste, feliz, ao sonho de Deus: UMA BORBOLETA!
João de Araújo