Vi aquele edifício, Senhor, todo moderno e fascinante.
Sua fachada, ostentando finíssimos acabamentos, reluzia à luz do sol, completando o bom gosto de suas linhas arquitetônicas.
Pensei em todos aqueles que, de uma certa maneira, lhe haviam dado a existência:
O arquiteto, que o havia projetado,
O desenhista, que o transportou para o papel,
O engenheiro, que lhe traçou as bases e os fundamentos,
Os operários, que o levantaram,
Os mil outros trabalhadores anônimos, que transformaram a matéria-prima no material usado em sua construção.
Sim, meu Deus, eu pensava em todos. E em tudo.
Mas o edifício, na linguagem viva e muda das coisas, parecia dizer-me que não mais precisava de nenhum deles. Que era auto-suficiente. Passava a existir por si mesmo, tão-somente regulado pelas leis físicas, e nada mais.
E eu pensei que, de fato, se ali chegassem os operários, que o haviam construído, certamente não teriam mais acesso a ele, tão orgulhoso ele me parecia.
Percebi que o arquiteto e o engenheiro podiam estar ali, imanentes em sua obra, porém não eram eles que a sustentavam.
Todos eles, Senhor, como tu sabes, foram apenas a causa estática daquele edifício, pois simplesmente transformaram materiais preexistentes noutro material. Podiam eles até mesmo morrer, mas o prédio continuaria existindo.
E eu pensei então mais longe, Senhor. Tive de mergulhar-me um pouco mais em ti, em busca da Verdade total, e não de conceitos imediatos e relativos.
Tu, somente tu, agora sei, és a Causa dinâmica de tudo.
Tudo o que crias e fazes não vive sem ti. Tu não chamas apenas o não-ser ao ser, mas o sustentas, proteges, redimes e transfiguras.
Veio-me, assim, à mente o teu grande Edifício Espiritual, cuja construção só terá término no fim dos tempos e para a qual dás uma parcela de responsabilidade a cada um de nós.
Diferente de todos os edifícios, Senhor, é o teu Edifício, pois tu o quiseste dependente de nós, mesmo após a nossa vida, na verdade sublime da comunhão dos santos. Assim, aqueles que mais se assemelharam a ti, e que já não mais peregrinam neste mundo, são ainda colunas e sustentáculos de teu Reino.
Assim pensando, Senhor, voltei a contemplar o edifício dos homens, procurando nele o que eu deveria ser em teu Edifício.
Pensei, pois, em suas bases, em seus pilares, mas eles me pareceram orgulhosos demais, pelo fato de sustentarem toda a construção.
Pensei então em sua fachada, que ali reluzia, mas ela pareceu-me profundamente externa, superficial e cheia de vaidades. Tinha o semblante de quem não suportava os elogios que lhe eram dirigidos todos os dias pela admiração dos homens.
Depois de muito pensar, Senhor, tua humildade ajudou-me a querer ser tão-somente aquele tijolo, que ali estava escondido, sem receber aplausos, sem ser badalado, inexistente para muitos, mas firme na construção dos homens, ensinando-me, pois, a ser fiel também na construção de teu Reino.
João de Araújo