Gestos e posições do corpo na Liturgia

01 - Devemos participar da liturgia com toda a nossa corporeidade, isto é, com todo o nosso ser - corpo, alma e espírito. E o corpo, por sua visibilidade, deve manifestar assim o que é invisível em nós, a nossa interioridade, ou seja, o nosso ser mais profundo. Daí, a importância de gestos e posições corpóreas nas ações litúrgicas com a compreensão de seu simbolismo.

02 - Segundo a Instrução Geral sobre o Missal Romano (n. 42), os gestos e posição do corpo, que todos devem observar (sacerdote, ministros e fiéis), devem contribuir para que toda a celebração resplandeça pelo decoro e pela simplicidade, na compreensão da verdadeira e plena significação de suas diversas partes. Essa postura física, porém, para ser frutuosa requer a uniformidade, pois é sinal de unidade dos membros da comunidade cristã celebrante, ressalvadas, porém, aquelas hipóteses reais de doentes, idosos etc., para os quais é indicada a postura adequada, que é a de assentados, por exemplo.

03 - Na prática - é bom observar - nossas assembléias não estão atentas a esse dado litúrgico, ou não são formadas no seu espírito, porque, quase sempre, vemos indiferença quanto ao que acima foi dito. De fato, num mesmo momento da celebração, podemos ver fiéis em diferentes posições: uns de pé, outros assentados e outros ainda ajoelhados, muitos deles por simples devoção, sem perceberem que estão em desarmonia com a Igreja celebrante. 

04 - Para as posições do corpo na liturgia, a nova Instrução Geral sobre o Missal Romano dá-nos a seguinte orientação:

a) - De pé:

Nos ritos iniciais, na aclamação e proclamação do Evangelho, na profissão de fé, nas preces comunitárias, desde o “Orai, irmãos” até a primeira epiclese, depois da Consagração até o final da Comunhão, na oração após a comunhão e na bênção final (IGMR n. 43a). Para o rito da comunhão, seja observado o que se diz mais adiante com relação aos fiéis que já comungaram.  

b) - Assentados:

Durante as leituras, no salmo responsorial, na homilia, nos ritos das oferendas, no momento de louvor após a comunhão e nos avisos finais (IGMR n. 43b).  
 

c) - De joelhos:

Durante o relato institucional ou Consagração (IGMR n. 43c).

05 - Embora respeitando a orientação do Missal, somos de opinião que a posição mais correta do corpo, no relato institucional ou Consagração,  é “de pé”. Explicamos: a posição do sacerdote, que oferece o sacrifício, é “de pé”, e toda a comunidade celebrante é sacerdotal pela ação do batismo, como também é um povo de ressuscitados. Além disso, a Liturgia é dirigida ao Pai (pelo Filho no Espírito Santo), pois o Pai é a fonte e o termo da Liturgia. Logo, a adoração dirigida ao Filho, na celebração, “desvia”, podemos dizer, o sentido do memorial e “quebra” o ritmo da dinâmica celebrativa.  

06 - Deve-se notar também que, pelo fato de estarem os fiéis ajoelhados durante a Consagração, a aclamação memorial que vem logo em seguida ao “Eis o mistério da fé”, numa de suas três formas, e que são importantíssimas quanto ao valor litúrgico, muitas vezes é recitada ou cantada ainda de joelhos, o que desfigura o sentido aclamativo, pois, na verdade,  ninguém aclama  ajoelhado. O que aqui se diz, mantendo-se a posição de joelhos na Consagração, só seria possível se, orientada e formada liturgicamente, toda a assembléia se levantasse antes da aclamação, o que, na prática,  parece impossível. 

07 - Já com relação às pessoas que não podem ajoelhar-se na Consagração, por motivo de saúde ou por outras causas razoáveis (como falta de espaço, assembléia numerosa, p. ex.), a Instrução orienta que, nos momentos de genuflexão do sacerdote, tais pessoas façam inclinação profunda. Aqui vemos também uma orientação mais no sentido de culto eucarístico do que para a plena celebração. Também a Instrução não explica o sentido da orientação de 179b, quando diz: “A partir da epiclese até a apresentação do cálice, o diácono normalmente permanece de joelhos”. Convictos de que a Eucaristia é, antes de tudo, celebração pascal, achamos estranha tal orientação.     

08 - Observe-se ainda: na nossa compreensão, as pessoas idosas e as doentes, durante a Comunhão,  podem ficar assentadas. Se o rito da comunhão for também longo, por causa de assembleia numerosa, não há inconveniência de que fiquem assentados os que já comungaram. A posição "de pé" de fato é a posição mais expressiva e simbólica, dado o seu sentido pascal, mas aqui deve estar também presente o bom senso, e não o aspecto simplesmente normativo.

09 - Não tem sentido também - diga-se - a posição de joelhos que muitas pessoas assumem após a comunhão, pois na liturgia o que vale não é o gosto pessoal e  devocional de cada um, mas o valor litúrgico de unidade, no sentido comunitário de toda ação litúrgica. Podemos dizer ainda que, ajoelhando-se, tais fiéis desligam-se dos demais, em atitude muitas vezes intimista, e a Eucaristia, em vez de produzir e reforçar neles o espírito de comunhão, acaba neles encontrando uma postura contrária ao espírito comunitário. Felizmente, tais atitudes não são propostas pela Instrução Geral,  mas frutos do desconhecimento litúrgico, inconscientes portanto, dada a falta de formação litúrgica dos que assim procedem.

10 - Quanto aos gestos na liturgia, temos os seguintes, que são os mais importantes:

a) - Genuflexão:

“A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até o chão, significa adoração; por isso, se reserva ao Santíssimo Sacramento e à santa Cruz, desde a solene adoração na Ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão do Senhor até o início da Vigília pascal” (IGMR n. 274).

Na missa, a genuflexão é feita pelo sacerdote em três momentos: depois da apresentação da hóstia, após a apresentação do cálice e antes da Comunhão. (IGMR n. 242 e 274). Também os concelebrantes fazem a genuflexão antes da comunhão. Havendo no presbitério tabernáculo com o Santíssimo Sacramento, todos os ministros, na missa, fazem a genuflexão quando chegam ao altar e quando dele se retiram, mas não durante a celebração. Também os fiéis fazem a genuflexão diante do Santíssimo Sacramento, exceto quando caminham em procissão. O ministro que leva o Evangeliário (diácono ou leitor), está dispensado de fazê-la (IGMR n. 173 e 195).

b) - Inclinação:

11 - Existem na Liturgia duas espécies de inclinação: a do corpo, ou inclinação profunda, e a da cabeça, como inclinação simples. Inclinação é então o gesto pelo qual se manifesta reverência e honra às três Pessoas Divinas (quando são nomeadas juntas), ao nome de Jesus, da Santíssima Virgem e do Santo em cuja honra se celebra a missa, inclinação esta aqui designada como simples. A reverência se estende também a símbolos sagrados, como o altar, às orações privadas do presidente “Ó Deus todo-poderoso, purificai-me” e “De coração contrito”, como também no Símbolo Niceno-Constantinopolitano às palavras “E se encarnou” e, no Cânon Romano (Oração Eucarística I), às palavras “Nós vos suplicamos” na epiclese sobre os comungantes (cf. IGMR n. 275). A inclinação que aqui se faz é do corpo, ou seja, inclinação profunda.

12 - Na celebração da missa fazem-se as seguintes inclinações:

Inclinação profunda ou do corpo:

a) - Por todos os ministros, diante do altar, no início e no fim, mas não durante a celebração (IGMR n. 49 e 122).

b) - Pelo diácono, na proclamação do Evangelho, em duas vezes: diante do sacerdote, quando pede a bênção e, diante do altar, quando toma o Evangeliário (IGMR n. 175 e 275).

Inclinação simples, ou da cabeça:

a) - Pelos ministros que, na celebração, conduzem a cruz, as velas, o turíbulo, o incenso etc. (IGMR n. 274e). 

b) - Pelo sacerdote quando, no relato, pronuncia as palavras do Senhor (IGMR n. 275). A Instrução diz: “... o sacerdote inclina-se um pouco...” Outros gestos na Liturgia:

13 - Também as procissões realizadas na missa (como a de entrada, das oferendas, da comunhão e do Evangeliário) são incluídas e entendidas como gestos litúrgicos (IGMR n. 44), devendo, pois, ser feitas com dignidade. Além disso, há o beijo (ósculo) do altar pelo sacerdote e pelo diácono, no início e no fim da celebração (IGMR n. 49 e 90) e ainda outros  gestos prescritos para o sacerdote durante a celebração, que aqui não são nomeados, por se tratar apenas de rubricas, ligadas à função presidencial. Para todos enfim há o rito da paz previsto (IGMR n. 82, 154, 181 e 239), como também o rito de mãos estendidas ou de mãos dadas pelos fiéis, no Pai Nosso  (IGMR n. 152 e 237), o que deve ser cultivado, dado o seu valor simbólico, e cuidando para que não caia em gesto mecânico. Outros possíveis gestos, mesmo se positivos, não são previstos e recomendados na Liturgia, por isso não podem ser exigidos dos fiéis, em sentido litúrgico.

João de Araújo

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