A comunhão eucarística

1 - O rito da comunhão eucarística está em estreita ligação prática com o quarto gesto de Jesus no Cenáculo: “... ele deu o pão aos discípulos...” Em rito processional, é distribuída a Comunhão aos fiéis, aqui lembrando o maná no deserto, mas maná vivo, não como aquele do Antigo Testamento, que causava surpresa e admiração (cf. Ex 16,15), mas ineficaz para a salvação (cf. Jo 6,49). A caminhada rumo ao altar, para receber o Corpo e o Sangue do Senhor, tem expressiva força simbólica: leva-nos à fonte da vida e aponta-nos a casa do Pai, enquanto fortalece a nossa caminhada terrestre, como viático divino, nas palavras de Santo Inácio de Antioquia. Lembremo-nos de que, na mesa eucarística, não há distinção de comensais: todos comem o mesmo pão na mesma dignidade batismal.

2 - Deve-se também ressaltar a importância da comunhão sobre as duas espécies. Aliás, incentivando essa prática um pouco esquecida em muitas comunidades, vai dizer a Instrução Geral: “A Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando sob as duas espécies. Sob esta forma se manifesta mais claramente o sinal do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no reino do Pai” (IGMR n. 281).

3 - Enfatizando também a prática da comunhão de hóstias consagradas na mesma celebração, como também reforçando a comunhão sob as duas espécies, vai ainda a Instrução dizer: “É muito recomendável que os fiéis, como também o próprio sacerdote deve fazer, recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma missa e participem do cálice nos casos previstos (cf. IGMR n. 283), para que, também através dos sinais, a comunhão se manifeste mais claramente como participação no sacrifício celebrado atualmente” (IGMR n. 85).

4 - O rito da comunhão pede-nos decoro, reverência, atitude de piedade e de encantamento com o mistério. Portanto: atenção, espírito orante e de simplicidade. Os fiéis devem ser orientados sobre a importância do “Amém” que devem responder quando lhes for apresentado o Corpo do Senhor. O “Amém” aqui, na verdade, significa o “sim” consciente e puro, a expressão viva da fé do comungante na presença real do Senhor na Eucaristia, misteriosa e sacramental, presença, porém, que não torna menos “reais” outras presenças do Senhor na missa. Presença “real” então por antonomásia, como diz Paulo VI (Encíclica “Mysterium Fidei” n. 41).

5 - O canto que se propõe neste momento, e que pode iniciar-se com a comunhão do sacerdote, é um canto vibrante, pascal, de compromisso libertador e missionário. Se for muito numerosa a assembleia, para a comunhão, talvez seja conveniente servir-se de interlúdios musicais após o primeiro canto, em vez da preocupação de sempre cantar, o que muitas vezes acontece e, pior ainda, com repetições do mesmo canto, tornando a celebração, às vezes, enfadonha, cansativa e maçante. A exemplo do rito de entrada, nas missas com impossibilidade de canto, como em missas feriais e de pequeno grupo, após a comunhão do sacerdote, este mesmo ou o leitor pode recitar a antífona da comunhão (cf. IGMR n. 87b).

6 - Na distribuição da Eucaristia, evite-se que os fiéis recebam por si mesmos a comunhão (cf. IGMR n. 160b), dirigindo-se, por exemplo, ao altar e lá retirando eles mesmos a hóstia, do cibório ou da patena. A Eucaristia deve ser recebida do ministro, pois é dom que se oferece e que os fiéis recebem na gratuidade. Portanto, nada de aplicar à comunhão eucarística o estilo “self-service”, seja com razões de sentido prático, seja por supostas razões de inculturação.

7 - Entendamos também que a verdadeira participação litúrgica encontra na comunhão sacramental o seu momento mais pleno e feliz. Diga-se ainda que não se pode entender uma vida cristã que se constrói fora da mesa do Senhor. Pelo menos, de maneira plena, pois somente a Eucaristia pode edificar a Igreja e será sempre fonte de espiritualidade, de comunhão de vidas, de fraternidade, de compromisso libertador e de vida missionária.

8 - A segunda epiclese, isto é, a segunda invocação do Espírito Santo, que acontece na Oração Eucarística, é sobre a assembleia, para que os fiéis, reunidos, se tornem verdadeiramente o Corpo místico, eclesial de Cristo. Está ligada portanto a este momento, de comunhão sacramental. Assim, embora muitos, somos um só corpo, e há um só pão, que, partido, nos faz um só em Cristo (cf. 1Cor 10,16-17).

João de Araújo

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