Os símbolos na Liturgia

 

1 - O ser humano é, ao mesmo tempo, corporal e espiritual. Portanto, matéria e espírito. Sua percepção das realidades espirituais depende de imagens e de símbolos, e sua comunicação só é plenamente objetiva na linha de comunhão. Em todas as civilizações e culturas e em todos os momentos da história, esse dado antropológico é percebido com clareza. O ser humano percebe as coisas pela linguagem própria, viva e silenciosa das coisas e se situa - ele próprio - no mundo do mistério. Tendo consciência de sua realidade transcendente, busca, pois, a comunhão no mistério, que se dá sobretudo na linguagem silenciosa dos símbolos. 

2 - Os símbolos nos mostram, em sua visibilidade, uma realidade que os transcende, invisível. Veja-se no fim deste texto o exemplo da vela acesa. Dizemos então que os símbolos falam sempre a linguagem do mistério, apontando para além deles próprios. Revelam e ao mesmo tempo ocultam a realidade que significam. Por aqui pode-se perceber o quanto é útil e necessária na Liturgia esta linguagem misteriosa dos símbolos. Eles não têm, como objetivo, explicar o mistério que se celebra, pois o mistério é para ser crido e vivido, não tanto para ser explicado e entendido. A finalidade dos símbolos é adornar, na linguagem simples das coisas criadas, a expressão profunda do mistério, que é invisível. Uma nota que é própria dos símbolos é a qualidade, não a quantidade. Como expressão simbólica, as quatro velas do Advento, por exemplo, falam-nos não da quantidade da luz, mas de sua intensidade, à medida que a Liturgia vai nos conduzindo para o Natal.

3 - Todo símbolo litúrgico deve mergulhar-nos na grandeza do mistério, sem reduzir este e sem banalizá-lo. Como símbolo, deve ser simples, como simples é toda a criação visível. Sua função na Liturgia é comunicar-nos aquela verdade inefável, que brota do mistério de Deus e que, portanto, não se pode comunicar com palavras. Na participação litúrgica, devemos passar da visibilidade do símbolo, isto é, de seu sentido imediato, de significante, para a sua dimensão mistérica, invisível, atingindo o significado, que é o objetivo final de toda realidade simbólica. Aqui percebemos que “o símbolo é o encontro de duas realidades numa só”.

4 - Podemos concluir então que, se o símbolo litúrgico não nos leva a esse nível de crescimento espiritual, descrito acima, certamente ele já não tem mais força expressiva e simbólica. Um exemplo de perda de significação simbólica, podemos citar a batina dos padres, ou o uso do véu na igreja pelas mulheres. Insistir, em nossa cultura e na vivência religiosa de nosso tempo, no uso de tais símbolos, seria forçar uma prática já inexpressiva e que certamente causaria até espanto em muitos fiéis.

5 -  Na Liturgia - saibamos - tudo, pois, é simbólico, levando-nos a passar do cotidiano, do mundo limitado em que vivemos, para as realidades mais sublimes, definitivas e eternas. E a Liturgia é descrita como ação simbólica, no sentido mais pleno. Desde a assembleia reunida até a pequenina chama da vela que arde, tudo é expressão simbólica, que nos remete ao mistério sublime do amor de nosso Deus.


6 - Como exercício, contemplemos, com o olhar da fé, uma vela acesa em nossas celebrações. Ela se consome lentamente, em exaustão total, sem perder, porém, a sua pequenina luz. Sua linguagem silenciosa, mas eloquente, fala-nos não de si mesma, mas de uma vida que se doa, até o fim, no amor, como que convidando-nos a fazer o mesmo, no exemplo dado pelo nosso Salvador, amando-nos até o fim (cf. Jo 13,1). Além disso, remete o nosso pensamento para Cristo, Luz definitiva do mundo e de nossas vidas (cf. Jo 8,12), ele que destruiu as nossas trevas no clarão de seu triunfo pascal. Na riqueza, pois, dos símbolos litúrgicos a beleza de todo ato celebrativo.

João de Araújo

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