O espaço celebrativo

 

1 - O Senhor, no diálogo com a samaritana (cf. Jo 4,21-24), ensina-nos que no Novo Testamento o culto não está mais reservado a um lugar exclusivo, como na antiga aliança, em que se dava valor absoluto ao Templo de Jerusalém (cf. Jr 7,4). A terra inteira é santa e foi entregue aos filhos de Deus. Mais importante que o "espaço físico" dos templos de pedra é o "espaço humano", onde os fiéis se reúnem, quais "pedras vivas", para a construção de um "edifício espiritual" (1Pd 2,4-5). O Corpo de Cristo ressuscitado é o templo espiritual por excelência (cf. Jo 2,19.21-22), do qual jorra a fonte de água viva (cf. Jo 7,37-38; Ap 22,1). Incorporados a Cristo, pelo ação batismal e por obra do Espírito Santo, nós é que somos o templo vivo do Deus vivo (cf. 2Cor 6,16).

2 - Não devemos nos esquecer de que a Igreja é, antes de tudo, povo de Deus, assembléia orante, convocada por Deus, e é pela Liturgia que a Igreja se manifesta ao mundo em sua mais nobre dimensão. A razão da presença de Deus no templo não é por ser templo, mas por abrigar o verdadeiro templo vivo, que é a comunidade orante e celebrante, pois Deus, que fez todo o universo, não habita simplesmente em templos feitos por mãos humanas (cf. At 17,24). Daí, então, a dignidade da assembleia, do povo de Deus reunido, dignidade, porém, de que muitas vezes a própria assembleia não tem consciência e que pode ser não poucas vezes ignorada até mesmo por muitas equipes de liturgia.

3 - Devemos entender contudo que, o que se afirmou acima sobre a igreja viva, a assembleia celebrante e orante, jamais deve reduzir a importância e a grandeza do templo material, o qual, pelo seu simbolismo profundo, deve ser adequado, funcional e sempre revelar, mesmo em sua construção material, a dignidade de "casa de oração" (cf. Is 56,7; Mt 21,13) e lugar de encontro e de comunhão. Diz o Concílio Vaticano II: "A casa de oração onde a Eucaristia é celebrada...deve ser bela e adequada para a oração e as celebrações religiosas" (cf. PO 5d; SC 124c), e o Catecismo da Igreja Católica sublima esta afirmação do Concílio, dizendo: “A igreja visível simboliza a casa paterna para a qual o povo de Deus está a caminho e na qual o Pai “enxugará toda lágrima dos seus olhos” (Ap 21,4). Por isso, a igreja também é a casa de todos os filhos de Deus, amplamente aberta e acolhedora” (cf. CIC n. 1186), um espaço então sagrado, podemos afirmar.

4 - Costumamos dividir nossas igrejas em dois espaços: o presbitério, como lugar dos ministros (cf. IGMR n. 295); e a nave, como lugar do povo (cf. IGMR n. 311). Mas essa divisão, embora expresse, nas celebrações, os diversos graus de serviço litúrgico, não é tão importante assim. Numa visão mais eclesiológica, vemos a igreja, na sua totalidade física e espacial, como lugar do povo. Nela podemos ver também com mais clareza quatro lugares de suma importância: o altar, a sede presidencial, o ambão e a nave, locais então concretos: do banquete eucarístico, da presidência litúrgica, das leituras bíblicas e da assembleia celebrante.

5 - Podemos dizer ainda que o simbolismo dos quatro espaços referidos acima nos mostra os sinais de uma quadriforme presença de Cristo: no alimento consagrado, no sacerdote, na Palavra de Deus e na assembleia dos fiéis, sendo que, nesta, se caracteriza a presença inicial do Senhor junto àqueles que se reúnem em seu nome (cf. Mt 18,20). Ambão e altar constituem os dois focos centrais da celebração da Eucaristia. Não nos esqueçamos também de que o Senhor, fora da celebração litúrgica, está presente em todos, principalmente nos pobres e sofredores (cf. Mt 25,34-45).

6 - Na nova aliança, o altar é a cruz do Senhor (cf. Hb 13,10), do qual brotam os sacramentos pascais. Sob sinais sacramentais, no altar se faz presente o sacrifício da Cruz (cf. CIC n. 1182). O altar é também Mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado, conforme esclarece o Missal Romano e, em certas liturgias orientais, é ainda símbolo do sepulcro, pois Cristo morreu de verdade e ressuscitou de verdade.

7 - A sede (cátedra = cadeira presidencial), do bispo ou do presbítero, "deve manifestar a sua função de presidir a assembleia e dirigir a oração", mas não deve assemelhar-se a trono (IGMR n. 310) e, quanto ao ambão, devemos saber "que a dignidade da Palavra de Deus requer na igreja um lugar condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da Liturgia da Palavra” (IGMR n. 309; CIC n. 1184). A dignidade do ambão exige que a ele subam somente os ministros da Palavra. Sua posição elevada (com degrau) indica-nos que a Palavra de Deus nos vem do alto.



João de Araújo

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