Advento - Do céu vai descer a esperança

1 - Dando início ao Ano Litúrgico, somos convidados a preparar-nos com a Igreja para, como Igreja, celebrarmos o Natal, solenidade da comemoração do nascimento do Menino-Deus e de suas manifestações. O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós, como nos revela o evangelista São João, colocando-nos assim diante de um mistério, na pobreza visível do presépio.

2 - O Natal vem revelar-nos que Deus não nos ama simplesmente, mas quis tornar-se um de nós, viver no tempo e experimentar, como nós, todas as limitações e fragilidades humanas, sendo em tudo semelhante a nós, exceto no pecado.

3 - Lembra-nos que a humildade de Deus, tornando-se homem, no mistério da Encarnação, é, ao mesmo tempo, profunda glorificação de nossa humanidade, elevando-nos à vida própria de Deus. Deus se humilha, despojando-se da grandeza divina, em verdadeira kénosis, para que possamos ser mais facilmente exaltados.

4 - A pobreza de Deus, no presépio, vai encontrar, depois, a sua expressão máxima no mistério da Páscoa, onde o amor de Deus se vê na imolação e no aniquilamento, a serviço da Redenção. Natal e Páscoa então se encontram, na liturgia, como festas de redenção e de vida. Assim, a contemplação do presépio deve levar-nos à contemplação da cruz. E é aqui que muitos cristãos tropeçam, pois não percebem no Menino da manjedoura as exigências cruciais do Cristo Crucificado.

5 - O presépio não se lhes apresenta com as exigências do Sermão da Montanha, e o rosto do Menino-Deus, na pureza e candura da infância, ainda não lhes revela o rosto do Servo de Javé, como no Calvário. Por isso, muitos comem e bebem a valer, em nome do Natal, sem o propósito de uma mudança de vida e sem se penitenciarem por terem passado todo um ano - quem sabe - na insensibilidade fraterna.

6 - A experiência nos mostra que, mesmo entre as famílias cristãs, se é fácil promover e realizar a novena do Natal, em preparação à festa natalina, o mesmo às vezes não acontece com a preparação da Páscoa, no tempo da Quaresma. Isto porque, no Natal, a linguagem é mais fácil, mais propícia, e até mesmo a alegria externa pode parecer-nos alegria interior, quando, em muitas vidas, não passa de simples alegria externa e superficial.

7 - Também a presença de avelãs, nozes, vinhos e ceias pode ajudar muito o clima do Natal, fornecendo, com isso, um dado legítimo da antropologia, sem manifestar, porém, explicitamente, uma tônica de conversão. Mas na Quaresma... Ah! na Quaresma, vem à tona a necessidade de jejuns, de abstinências, de mortificações, de gestos de fraternidade, e isso não se identifica com a filosofia de um mundo consumista, individualista e sem veias de amor fraterno. Fica assim difícil uma verdadeira Campanha da Fraternidade, na Quaresma, para aqueles que, no Natal, se preocuparam tão somente com Champanhas em quantidade!

8 - Natal é, pois, festa de fraternidade. O Amigo que vem visitar-nos não é um "amigo oculto", mas um Deus-Irmão, um eterno apaixonado pelas criaturas que tanto ama. Do céu vai descer a esperança. Não, porém, uma esperança vã, ilusória e abstrata, mas uma esperança-certeza, uma esperança redentora. Como os anjos em Belém, cantemos pois: "Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens por Ele amados"!

 

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João de Araújo

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