Orações presidenciais na missa

 

1 - Rica, profundamente rica, é a eucologia da Igreja, aqui entendida como o conjunto de suas preces e orações, estas quase sempre de índole bíblica, de grande valor orante e com conteúdo de vasto sentido teológico, litúrgico e pastoral. Nesse conjunto de orações, predominam as assim chamadas orações presidenciais, que, pela voz do sacerdote ou do bispo, quando presidem a assembleia litúrgica, são verdadeiras orações de toda a Igreja. São eles - sacerdotes e bispos - sinais visíveis da unidade dos fiéis em torno de Cristo. Na liturgia, sua ação vai então realizar-se de duas maneiras e simultaneamente: “in persona Christi”, isto é, na pessoa de Cristo, e “in nomine ecclesiae”, ou seja, em nome da Igreja.

 

2 - Na missa, são quatro as orações presidenciais: três estão no fim de ritos processionais, como a procissão de entrada (Oração do dia); das oferendas (Oração sobre as Oferendas); e da Comunhão (pós-comunhão). A mais importante, porém, é a Oração Eucarística, a qual constitui o cerne de toda a Eucaristia. O “Amém” da assembleia, no fim das orações presidenciais, é de suma importância, pois é a sua ratificação, tornando-a também sua.

 

3 - Por uma antiga tradição da Igreja, a oração litúrgica costuma ser sempre dirigida ao Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, e com uma conclusão trinitária, mais longa, do seguinte modo: quando dirigida ao Pai: “Por NSJC, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”; quando se dirige ao Pai, mas no fim se menciona o Filho: “Que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo”; e quando se dirige ao Filho: “Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo”. Nas orações sobre as Oferendas e pós-Comunhão, a conclusão é sempre breve: “Por Cristo, nosso Senhor” (cf. IGMR nºs. 54, 77 e 89).

 

4 - Na Liturgia, quando o sacerdote ora em nome de Cristo, ele ora sozinho, como na Consagração, por exemplo; em nome da Igreja, ele ora no plural. Quando, em outros momentos da celebração, ele ora em nome próprio, propõe-se então que ore em silêncio. Vê-se, pois, que a oração da Igreja, dada a sua comunhão com Cristo, é, ao mesmo tempo, ascendente e descendente, o que se manifesta com mais clareza ainda na doxologia da oração eucarística. A propósito, vem-nos à mente aquele pensamento de comparação feliz: “As orações são como a escada de Jacó: por elas sobem as súplicas, e por elas descem as divinas consolações”, na referência ao sonho de Jacó, como narrado em Gn 28,12 e que parece aplicado por Cristo a si mesmo em Jo 1,51.

 

5 - Seria desejável, para o bem da Liturgia e da fé, que todos os celebrantes - ministros e assembleia - tivessem plena consciência do que acima se diz. Assim, a dignidade do sacerdócio ministerial ordenado apareceria com mais nitidez na celebração litúrgica, não como projeção da pessoa do ministro, mas como razão maior para a glória de Deus e santificação dos homens, e a própria assembleia ver-se-ia também toda ministerial, assumindo com alegria tudo o que lhe é próprio na celebração do mistério cristão.

 

6 - A escuta das orações presidenciais, pela assembleia, é uma escuta ativa, pois é a assembleia que fala pela voz do sacerdote, diferente assim da escuta receptiva, requerida na Liturgia da Palavra. De fato, nas orações presidenciais os ouvidos da assembleia materialmente ouvem, mas “é sua boca que teologicamente fala”, como explica Cesare Giraudo. Na prática litúrgica, a recitação de tais orações pelo presidente deve ser feita em voz alta, durante a qual não se deve fazer ouvir outra voz, como de canto, por exemplo, nem mesmo qualquer som de instrumento musical.

 

7 - Orar ao Pai, por Cristo e no Espírito Santo, como nas orações oficiais da Igreja, é mais que belo discurso de palavras escolhidas, bonitas e até edificantes. É, sim, verdadeiro compromisso de assumir com ele a construção de um mundo novo, alicerçado na vivência do amor, na prática da justiça, da verdade e da fraternidade, um abraçar consciente das causas do Reino, na plena fidelidade ao projeto amoroso de Deus. 

 

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João de Araújo

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