O simbolismo bíblico do número sete

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1 - No Oriente, como sabemos, especialmente na cultura judaica, os números não têm apenas um valor linear e relativo, como no Ocidente, mas sempre um valor simbólico, que muito influi na compreensão religiosa dos dados da revelação e da fé. Neste trabalho, pretende-se fazer algumas anotações sobre o número sete, que, na tradição bíblica, sempre representa a perfeição, algo que vai além do simplesmente relativo, numa expressão simbólica carregada de significado.

2 - Mas por que o número sete, como tantos outros, é assim tão fortemente simbólico? Respondemos que o símbolo não é explicável, e que a sua linguagem é a do mistério, do indizível portanto e do inefável. Caracteriza-se mais pelo silêncio do que propriamente pela verbalização.

3 - Para os santos padres, o número sete representa, simbolicamente, a perfeição, a amplitude, a integridade, a plenitude, a totalidade. Ele pode ser, como se sabe, a soma aritmética de três mais quatro. Três, em geral, indica algo que se refere a Deus, na noção, por exemplo, do triângulo equilátero, que é uma figura geometricamente perfeita, e o número quatro se refere sempre a algo que está dentro dos limites do mundo.

4 - Os santos padres viam, pois, todo esse simbolismo no número sete. Para Santo Agostinho, ele é, na prática, símbolo de totalidade e plenitude, e para Santo Ambrósio, indica a perfeição, por ser formado de dois números perfeitos, como se falou acima: o três, na referência ao divino, e o quatro, na identificação do mundo criado.

5 - Assim a perfeição de Deus, agindo e operando nos limites do mundo, dá-nos uma compreensão do mistério e da plenitude. O tempo, por exemplo, constituído em estações, em número de quatro, rege o mundo, e é um movimento, que se divide em fases, as quais, por sua vez, mudam-se de sete em sete dias, constituindo então as semanas, no equilíbrio da realidade cósmica.

6 - No terreno religioso, podemos dizer, também como exemplo, que, nas sete petições do Pai Nosso, as três primeiras se referem a Deus, e as quatro últimas se referem a nós, tornando-se então uma expressão ainda mais simbólica e objetiva. Diga-se também que, no Cristianismo, a semana, na expressão quantitativa de sete dias, é fundamental para a compreensão do mistério cristão e de sua celebração.

7 - A finalidade deste trabalho, deve-se dizer, não é satisfazer curiosidades, ou distrair mentes preguiçosas. Estas podem ficar satisfeitas quando, por exemplo, são informadas de que na Sagrada Escritura o número sete aparece, explicitamente, quatrocentas e quarenta e seis vezes, sendo que só no Apocalipse são cinquenta e seis vezes.

8 - Deve-se, pois, somar ainda às revelações explícitas do número sete os fatos, episódios e sentenças em que o número sete se esconde, às vezes intencionalmente, como, por exemplo, nas sete bem-aventuranças do Apocalipse, nos sete "ais" de Mt 23,13-32 etc.. O objetivo, porém, deste estudo é formar na dimensão mistérica do símbolo, imperceptível muitas vezes pelos conceitos humanos, mesmo quando estes são bem elaborados e racionais. Como já sabemos, o símbolo fala, quase sempre, numa linguagem puramente silenciosa, e seu horizonte transcende o mundo simplesmente visível.

REFERÊNCIAS DO NÚMERO SETE NO ANTIGO TESTAMENTO

9 - Vejamos, pois, alguns textos bíblicos em que o número sete aparece com esta função simbólica, iniciando por algumas referências do Antigo Testamento, para dar ênfase depois no Novo Testamento.


Gênesis:

 0 - A história bíblica começa já com a semana da criação, semana que é fundamental, hoje e sempre, na vida da Igreja, principalmente na celebração dos mistérios divinos, conforme já se falou, e seu aparecimento no início da criação pode muito bem ser interpretado como pedagogia de Deus, a qual, depois, na história da salvação, vai aparecer mais plena de sentido.

11 - O primeiro dia, que narra a criação da luz, guarda profunda relação com a ressurreição de Cristo, no primeiro dia da semana, conforme nos relata o Evangelho. Gn 1,1-2,3 nos traz, pois, a descrição dos sete dias, na primeira referência bíblica, mostrando ser um tempo de trabalho e operação de Deus, na obra criadora, culminando com a bênção divina do sétimo dia.

12 - No segundo livro dos Macabeus, é significativa, na caminhada do povo eleito, a história dos sete irmãos macabeus, culminando com o seu martírio, como se lê em 2Mc 7,1-40. E não se trata, aqui, podemos dizer, de mera coincidência o fato de serem sete os irmãos macabeus, martirizados. Nesse livro, aparece, explicitamente, a primeira profissão de fé na ressurreição, já no Antigo Testamento (cf. 2Mc 12,43-45).

13 - Com relação ainda ao Antigo Testamento, no que diz respeito ao simbolismo do número sete, deve-se levar em consideração a seriedade com que os judeus celebravam o sétimo dia, conforme se vê também em 2Mc 12,38, como exemplo. Ainda em 1Mc 3,39, há o simbolismo dos sete mil cavaleiros, e, em 1Mc 13,28, a construção de sete pirâmides.

14 - Outras passagens do Antigo Testamento ilustram também a importância simbólica do número sete, dentre as quais podemos citar:

Gn 9,12-13 - O arco-íris, colocado como sinal da aliança de Deus com Noé (O arco-íris é um meteoro luminoso, que apresenta as sete cores do espectro solar: roxo, anilado, azul, verde, amarelo, alaranjado e vermelho). É também visto no trono de Deus (cf. Ez 1,28; Ap 4,3).

Ex 25,37; 37,23 - O candelabro judaico, com suas sete lâmpadas (Menorah)

Lv 25,4, Ex 23,10-11, Dt 15,1 - Instituição do ano sabático (sétimo ano)

Lv 25,8 - Diz respeito ao ano jubilar (quinquagésimo ano, ou seja, o ano seguinte após sete anos sabáticos)

Jr 25,11; 29,10; Dn 9,2.24 -27 - Estes textos tratam do cativeiro da Babilônia, comentado em 2Cr 36,20-21 como profecia de Jeremias (setenta anos), e que, em Dn 9,24-27, o anjo Gabriel dá nova expressão simbólica, na famosa profecia das "setenta semanas" (semanas de anos, ou seja, setenta x sete = 490 anos). Aqui, trata-se, pois, de número misterioso, arredondado convencionalmente, sem valor portanto linear e matemático, mas simbólico.

1Sm 2,5 - Aqui Ana, estéril como tantas mulheres judias, canta a glória de Deus, pelo nascimento de Samuel, e diz: "A mulher estéril dá à luz sete vezes, enquanto a mãe de muitos filhos se exaure".

Pr 9,1 - A sabedoria construiu a sua casa, plantando sete colunas.

Br 1,2 - A tomada de Jerusalém, pelos caldeus, no sétimo dia

Ecl 11,2 - As sete partes do pão jogadas sobre as águas

Esd 6,22; 7,14 - Sete dias de festa - Esdras enviado pelo rei e pelos sete conselheiros

Jt 16,24 - A casa de Israel chorou a morte de Judite por sete dias

Mq 5,4 - Os sete pastores contra a Assíria

Ne 8,18 - Também aqui referência a sete dias de festa

Rt 4,15 - Rute, nora de Noemi, vale mais que sete filhos

Zc 3,9; 4,2.10 - Sete lâmpadas - Sete canais - Sete olhos

2Rs 5,10.14 - As sete vezes em que Naamã, o sírio, se lavou nas águas do Jordão, para curar-se da lepra

Nm 12,9-15 - O episódio da lepra de Maria, irmã de Moisés (leprosa durante sete dias)

Tb 12,15 - O anjo Rafael, como um dos sete anjos que tem sempre acesso à glória do Senhor

 15 - Também nos salmos encontramos três vezes a referência ao número sete, no simbolismo bíblico. Ei-las:


Sl 12[11],7 - As palavras de Javé são palavras sinceras, prata pura, saindo da terra, sete vezes refinada.

Sl 79[78],12 - Devolve aos nossos vizinhos sete vezes no seu peito o ultraje com que te afrontaram, ó Senhor.

Sl 119[118], 164 - Sete vezes por dia eu te louvo, por causa de tuas normas justas.

Nota: Para não tornar este trabalho exaustivo e monótono, não são dadas aqui as outras passagens do Antigo Testamento em que há referências ao número sete, por serem também de menor importância.

 O SIMBOLISMO DO NÚMERO SETE NO NOVO TESTAMENTO

As referências do Evangelho de João:

Nota: O Evangelho de João, como também as suas três epístolas, não citam nenhuma vez, explicitamente, o número sete, mas o Evangelho o traz, implicitamente, nos episódios que narra e no simbolismo doutrinário e litúrgico de que está repleto, como se vê nos textos a seguir.

a) Semana inaugural

16 - Pode-se dizer que João começa o seu Evangelho com uma semana inaugural, quase dia por dia, como no Gênesis. Até a redação se assemelha: "No princípio..." (Comparar Gn 1,1 e Jo 1,1). Apenas o 5º dia, em Jo, não tem uma referência direta. Sabe-se, porém, que tudo em João é intencional, simbólico e teológico. Por isso, a sua semana é de seis dias, pois ele não  reconhece o sétimo dia como de descanso, uma vez que o Pai ainda trabalha (cf. 5,17). No início de seu evangelho, Jo faz coincidir o sexto dia com as Bodas de Caná, iniciando o seu ministério com o “primeiro sinal", o do vinho novo, sinal relacionado com o do sexto dia iniciado em 12,1,  dia do acabamento, quando na cruz dirá "Está consumado" e entrega o espírito. Segundo o modo de falar daquele tempo, "no terceiro dia" significa dois dias depois. Temos assim, com relação às núpcias de Caná:

Jo 1,19-28 (1º dia) - Jo 1,29 (2º dia) - Jo 1,35 (3º dia)
Jo 1,43 (4º dia) - Jo 2,1 (6º dia=3º depois do 4º)

17 - Vê-se, pois, claramente, que no Ev de Jo, essa semana inaugural termina com a manifestação da glória de Jesus, nas bodas de Caná, prenúncio, como se sabe, da manifestação da glória pascal, definitiva, no fim de sua vida terrena. No início, ainda não chegada a sua hora, Cristo transforma, pois, a água em vinho, mas no fim, chegada a sua hora - que João vê como a "hora da glorificação de Jesus" - ele então transforma o vinho no seu sangue, instituindo o admirável sacramento da Eucaristia, embora tal instituição não esteja literalmente em João, mas nos sinóticos e em Paulo.

b) - Os sete milagres do Evangelho

18 - É curioso que João, no seu Evangelho, narra apenas sete milagres de Jesus, que, na linguagem joanina, são "sinais", tudo levando a crer que se trata de puro simbolismo bíblico. Assim temos:

Jo 2,1-11 - Transformação da água em vinho

Jo 4,46-54 - Cura do filho do funcionário real

Jo 5,1-9 - Cura de um aleijado na piscina de Betsaida

Jo 6,1-14 - Multiplicação dos pães (5 pães e 2 peixes = 7)

Jo 9,1-7 - Cura do cego de nascença

Jo 11,1-43 - Ressurreição de Lázaro

Jo 21,4-11 - (Pesca milagrosa)

19 - Note-se que a ressurreição de Lázaro é, em Jo, o último milagre de Cristo, antes de sua morte, prenúncio jubiloso de sua própria ressurreição, assim como o primeiro "sinal", de Caná, é prenúncio do milagre maior da Eucaristia. Já a "pesca milagrosa" (Jo 21,4-11), após a ressurreição, aponta para a multidão dos que hão de ser salvos, e o contexto da pesca conta sete os discípulos presentes (cf. Jo 21,2).

20 - Note-se também a abundância como característica do reino messiânico: no primeiro "sinal", a do vinho, e, no último, a dos peixes, lembrando ainda a da vida trazida por Cristo, como relata Jo 10,10. Note-se ainda que, no relato da pesca (Jo 21,1-14), em dado significativo, faz-se referência sete vezes à palavra discípulo ou discípulos, notemos ainda que em Jo a palavra "são" ou "curado" aparece sete vezes: Jo 5,4.6.9.11.14.15; 7,23.

c) As sete autoproclamações de Cristo

21 - As autoproclamações de Cristo, no Ev de Jo, certamente têm a ver com a revelação do nome de Deus a Moisés, conforme Ex 3,13-15 ("EU SOU" = "JAVÉ"), e que Cristo, identificando-se com o Pai, aplicou a si mesmo (cf. Jo 8,24.58). Vejamos, pois, tais perícopes:

1ª - Jo 6,35: Eu sou o pão da vida (depois da multiplicação dos pães)

2ª - Jo 8,12: Eu sou a luz do mundo (por ocasião da cura do cego)

3ª - Jo 10,7: Eu sou a porta (no contexto da pergunta se ele era o Messias)

4ª - Jo 10,10: Eu sou o bom pastor (no mesmo contexto da autoproclamação anterior)

5ª - Jo 11,25: Eu sou a ressurreição e a vida (na ressurreição de Lázaro)

6ª - Jo 14,6: Eu sou o caminho... (estando para ir para junto do Pai)

7ª - Jo 15,1: Eu sou a videira (estando para derramar seu sangue: a uva espremida)

Veja o simbolismo didático da primeira e da última autoproclamação: elas se ligam diretamente à Eucaristia.


As referências do Apocalipse:

22 - Ainda de João, temos também várias citações no Apocalipse, nem sempre comentadas pelos biblistas, mas que, em sua totalidade, como no caso dos "sinais" e "autoproclamações", apontam para o simbolismo do sete, constituindo também verdadeira riqueza da revelação bíblica. Ei-las, pois:

As sete bem-aventuranças

 1ª - Ap 1,3: Feliz o leitor e os ouvintes das palavras desta profecia...

2ª - Ap 14,13: Felizes os mortos, os que desde agora morrem no Senhor...

3ª - Ap 16,15: Feliz aquele que vigia e conserva suas vestes...

4ª - Ap 19,9: Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro...

5ª - Ap 20,6: Feliz e santo aquele que participa da primeira ressurreição...

6ª - Ap 20,7: Feliz aquele que observa as palavras deste livro

7ª - Ap 20,14: Felizes os que lavam suas vestes para ter poder sobre a árvore da vida...

Algumas das citações do Apocalipse, com referência explícita ao número sete

Igrejas - Ap 1,4

Espíritos - Ap 1,4; 4,5

Candelabros - Ap 1,12; 4,5

Selos - Ap 5,1

Anjos - Ap 8,2; 15,5.7

Trombetas - Ap 8,2

Pragas - Ap 15,6

Taças - Ap 15,7

 Nota: O Apocalipse fala ainda de sete cabeças (13,1), sete estrelas (2,1), sete montes e sete reis (17,9), sete chifres ou pontas, sete olhos (5,6), sete trovões (10,3), sete diademas ou coroas (12,3) e sete mil pessoas mortas na catástrofe (11,13).

As referências no Evangelho de Mateus:

23 - Também o evangelista Mateus tem predileção pelo número sete, dado o seu simbolismo religioso. Vejamos algumas referências:

Mt 1,1-17: A genealogia de Jesus descrita em 42 gerações (14+14+14), vendo-se aqui que 14 é o dobro de 7, usado de maneira intencional.

Mt 6,9-13: As sete petições do Pai Nosso

Mt 13,1-47: As sete parábolas

Mt 18,21-22: O dever de perdoar não sete, mas setenta vezes sete

Mt 23,13-29: As sete maldições contra os fariseus

Mt 22,25-28: O episódio dos sete irmãos, que se casaram com uma única mulher

24 - Finalmente, as sete partes em que se divide o Evangelho de Mateus: introdução, 5 livros e a parte final.

AS REFERÊNCIAS NO EVANGELHO DE LUCAS E MARCOS

25 - Em Lc e Mc as referências explícitas ao número sete são menores, mas também de grande importância simbólica. Vejamos:

 Lc 2,36 - Os sete anos vividos pela profetisa Ana, no matrimônio

Lc 8,3 - Os sete demônios expulsos de Maria Madalena

Lc 11,25 - Os sete espíritos piores que traz o espírito do mal, quando este volta para a casa de onde saiu, após perambular por lugares áridos e não encontrar repouso.

Lc 17,4 - Referência ao perdão que se deve dar, quando há arrependimento: sete vezes, em sete vezes de arrependimento

Lc 20,29 - O episódio dos sete irmãos, que se casaram com a mesma mulher.

Nota: A referência explícita de Marcos está em Mc 8,5ss, no episódio da multiplicação dos pães (sete pães, sete cestos...). Outras possíveis referências ao sentido de sete encontram-se também nos outros evangelhos.

26 - Com referência ainda a Lucas, podemos ver no Atos dos Apóstolos:

At 6,3 - A eleição dos sete diáconos

At 13,19 - As sete nações destruídas

At 19,14 - Os sete filhos de Scevas, exorcistas ambulantes, tentando imitar Paulo

At 21,27 - Os judeus, vindos da Ásia, após sete dias de Paulo em Jerusalém, amotinaram o povo contra ele.

At 28,14 - A estadia de Paulo, por sete dias, com os irmãos em Roma.

As referências de São Paulo em suas epístolas

As bênçãos espirituais de Ef 1,1-14:

27 - Estas bênçãos espirituais, um tesouro dos escritos de São Paulo, concretizam o desígnio amoroso e eterno de Deus (cf. Ef 1,3). Vamos descrevê-las:

 1ª bênção: Ef 1,3: O chamado de Deus à vida de santidade

2ª bênção: Ef 1,5: A maneira como esta santidade se realiza: a filiação divina, por adoção em Cristo.

3ª bênção: Ef 1,7: A redenção histórica operada por Cristo, no seu Sangue redentor.

4ª bênção: Ef 1,9: A revelação do mistério escondido desde toda a eternidade

5ª bênção: Ef 1,11: A eleição de Israel, como povo de herança de Deus, na perspectiva messiânica

6ª bênção: Ef 1,13: O chamado dos gentios à participação do Povo de Deus, quebrando as barreiras existenciais

7ª bênção: Ef 1,13b-14: O coroamento pelo Espírito Santo da obra redentora de Deus, em Cristo, selando-a na dimensão trinitária

Nota: Como se vê, a redenção humana é decretada por Deus, antes da fundação do mundo (Cf. Ef 1,4), o que significa dizer que Deus pensou na salvação antes mesmo da criação. Assim, a redenção não é remendo do plano de Deus, mas coroação de seu desígnio salvador. A obra redentora de Deus precede, pois, a sua obra criadora.

A referência de Rm 11,4:

28 - É um comentário de São Paulo, sobre a declaração de Elias, justificando-se diante de Deus: "...mataram teus profetas a espada. Fiquei somente eu e procuram tirar-me a vida" (Cf. 1Rs 19,10). Mas Deus havia reservado sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal (Cf. 1Rs 19,18), e isto o profeta parecia ignorar.

Também a referência de Hb 11,30:

29 - Pela fé, caíram as muralhas de Jericó, depois de sete dias de cerco.

Nota: Ainda com referência ao Novo Testamento, podemos falar também, simbolicamente, das epístolas de São Paulo, em número de quatorze (dobro de sete), incluindo Hb, e das epístolas católicas, em número de sete.


APLICAÇÃO DO SIMBOLISMO DO NÚMERO SETE NA TRADIÇÃO DA IGREJA

30 - Também a Igreja, seguindo a tradição judaica, conserva o simbolismo do sete não só em sua doutrina, como também em sua liturgia, embora muitos não tenham consciência do valor simbólico de tais pontos eclesiais. Diga-se também que nem sempre a expressão simbólica de nossa fé recebeu ênfase maior na catequese.


31 - Como exemplos do que aqui se expõe, temos, pois, neste capítulo:

Os sete dons do Espírito Santo (cf. Is 11,1-3):
Sabedoria - Entendimento - Conselho - Fortaleza - Ciência - Piedade e Temor de Deus

Os sete sacramentos:
Batismo - Eucaristia - Crisma - Penitência - Unção dos Enfermos - Ordem e Matrimônio

Os sete vícios capitais:
Soberba - Avareza - Luxúria - Gula - Ira - Inveja e Preguiça

As sete virtudes cristãs:
três, teologais (fé, esperança e caridade) e quatro, morais ou cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança).

Os sete dias da Semana Santa
(tanto da Páscoa, como do Natal, esta de 17 a 23 de dezembro, aqui ainda presentes as sete antífonas do "Ó", na Liturgia das Horas).

As sete últimas palavras de Cristo, assim identificadas:

 1. Pai, perdoa-lhes... (Lc 23,34)

2. Hoje mesmo estarás comigo no paraíso (Lc 23,43)

3. Mulher, eis aí teu filho... (Jo 19,26-27)

4. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27,46; Mc 15,34)

5. Tenho sede! (Jo 19,28)

6. Tudo está consumado! (Jo 19,30)

7. Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23,46)

As sete dores de Maria, assim entendidas pela piedade cristã:

1. A profecia de Simeão (Lc 2,35)

2. Fuga para o Egito (Mt 2,13-15)
3. Perda do menino Jesus em Jerusalém (Lc 2,41-50)

4. Encontro com Cristo na estrada do Calvário (sem registro bíblico)

5. Morte de Cristo na cruz (Jo 19,25.30)

6. Maria recebe o Filho morto (sem registro bíblico) - Pietá

7. O sepultamento de Jesus (Soledade de Maria) (Jo 19,42)

As sete palavras também de Maria, que são:

Na anunciação do anjo:

1. Como é que vai ser isso... (Lc 1,34)
2. Eu sou a serva do Senhor... (Lc 1,38)

Na visitação a Isabel:

3. Saudação a Isabel (Shalon judaico) (Lc 1,40)
4. O Magnificat (Lc 1,46-55)

No templo de Jerusalém:

5. Meu filho, por que agiste assim conosco? (Lc 2,48)

Nas bodas de Caná:

6. Eles não têm vinho. (Jo 2,3)
7. Fazei tudo o que ele vos disser! (Jo 2,5)

Ainda temos as obras de misericórdia, entendidas como corporais e espirituais. Vejamos então:

As corporais:

1. Alimentar os famintos

2. Dar de beber aos sedentos

3. Vestir os nus

4. Abrigar os peregrinos

5. Confortar os prisioneiros

6. Visitar os doentes

7. Sepultar os mortos.

As espirituais: 

1. Ensinar os ignorantes

2. Rezar pelos vivos e pelos mortos

3. Corrigir os pecadores

4. Aconselhar a quem está na dúvida

5. Consolar os tristes

6. Suportar as injustiças com paciência

7. Perdoar as injustiças de boa vontade

32 - Finalmente, podemos falar também: dos sete domingos da Páscoa, culminando em Pentecostes; dos sete momentos de oração, da Liturgia das Horas, com sua forte conotação bíblica, tornando a Igreja verdadeiramente orante: as Laudes (oração da manhã); as Vésperas (oração da tarde); as Completas (oração da noite); o Ofício das Leituras, e a Hora Média, com seus três momentos: Hora Terça (nove horas); Hora Sexta (meio dia) e Hora Nona (15 horas).

João de Araújo

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