As antífonas na liturgia

Uma riqueza sempre nova

 

1 - As antífonas são, geralmente, um pequeno versículo bíblico, podendo ser também, mas raramente - notemos - um pequeno texto de inspiração bíblica, excluídas, porém, de acordo com a IGLH, as adaptações arbitrárias, pois as antífonas, dada a sua marca bíblica, ajudam a ilustrar o gênero literário do salmo, conferindo a este matiz particular em certas circunstâncias e ajudando na sua interpretação tipológica e festiva. As antífonas, podemos dizer, são sálmicas por natureza. Quem reza assim os salmos pode fazer deles oração pessoal e, ajudado pelas antífonas, pode encontrar neles um pensamento especialmente digno de atenção e de edificação cristã. Geralmente, as antífonas tornam também mais agradável e variada a recitação dos salmos.

 

2 - Desde o século IV, a antífona indica a execução de um canto mediante dois coros, de modo que um responde ao outro, daí o nome “antífona” (voz contra voz). Na liturgia, tecnicamente - e é bom que seja assim - a antífona é cantada só pelo solista ou pelo coro, no início e no fim do salmo, diferente do refrão no Salmo Responsorial, que, entoado no início pelo salmista, é repetido pelos fiéis, na mesma tonalidade, voltando sempre depois de cada estrofe sálmica a ser cantado só pela assembléia. Na estrutura literária e litúrgica da antífona vamos ter, pois, os seguintes elementos: antífona-refrão/estrofe-refrão... e, depois da última estrofe, voltando: antífona-refrão, o que traz de fato mais beleza e harmonia ao canto litúrgico.

 

Função ministerial das antífonas

 

3 - Na tradição latina, como diz a IGLH (n. 110), as antífonas muito contribuíram para a compreensão dos salmos ou para fazer deles oração cristã. Assim vemos que, na Liturgia, elas têm uma função ministerial que lhes é própria e que muito contribui para a compreensão das celebrações, em seu sentido verdadeiramente litúrgico. Em todo o Ano Litúrgico, estendendo-se, pois, às celebrações do Santoral, a grande diversidade das antífonas vai-se revelando, cada vez mais, como riqueza expressiva da fé da Igreja. O cristão deve sentir-se, pois, agraciado por Deus por se ver inserido em tamanha atmosfera de fé orante e mergulhado em tão nobre sinfonia de paz e de louvor.

 

As antífonas na Missa

 

4 - As antífonas aparecem na missa não só com função exortativa, mas também como proclamação e afirmação de dados da fé, sempre ligados à revelação bíblica, isto acontecendo em dois ritos, o da entrada e o da comunhão. Em sua ministerialidade litúrgica, na missa elas têm então uma função substitutiva dos cantos processionais de entrada e de comunhão, quando tais cantos aí não estão presentes. Assim, na ausência do canto, os fiéis, ou alguns deles, o leitor ou mesmo o sacerdote pode recitá-las, observando o seguinte: na entrada, a recitação se faz após a saudação do presidente e antes do Ato Penitencial; na comunhão, após o sacerdote ter comungado e antes de distribuir a comunhão aos fiéis (cf. IGMR n. 48b e 87b).

 

5 - Como exemplo prático para o nosso trabalho, vamos tomar o exemplo das antífonas da missa do 1º Domingo do Advento, lembrando-nos de que com esse domingo se inicia o Ano Litúrgico. Vejamos então as antífonas: da entrada: “A vós, meu Deus, elevo a minh’alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado. Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem confia em vós” (Sl 25[24]1-3). Antífona da comunhão: “O Senhor dará a sua bênção, e nossa terra o seu fruto” (Sl 85[84]13). Como se vê, ambas as antífonas são inteiramente bíblicas, e é interessante notar que as primeiras palavras da Liturgia, no início do Ano Litúrgico, (as da antífona de entrada), são um louvor sálmico que a Igreja coloca no coração de seus filhos, como que ensinando-os a elevarem a alma a Deus, seguindo muito de perto a espiritualidade judaica e transcendendo-a em grau de importância, dada a primazia da Nova Aliança, no mistério do Filho de Deus.

 

6 - Na missa, antífonas também podem fazer parte dos cantos processionais de entrada e de comunhão, dependendo, nesse caso, dos letristas e compositores, mas, ao que parece, muitos não estão conscientes e orientados para tal. Deve-se afirmar que as antífonas dão ao canto litúrgico mais qualidade poética, bíblica e teológica, uma vez que elas exigem a marca bíblica, afugentando assim toda a mesmice de nossos cantos. Exemplos contudo são encontrados no Hinário Litúrgico (“Como o sol nasce da aurora”, para o Advento, e “Eu vos dou um novo mandamento”, para a Quinta-Feira Santa”, dentre outros), mas será necessário crescer muito, tendo em vista a vasta aplicação para todo o Ano Litúrgico, como acontece, felizmente, na Liturgia das Horas.

 

7 - Com referência ainda à missa, é lícito pensar que a maioria das equipes de liturgia talvez ignore o que aqui se diz sobre as antífonas, porque, na prática litúrgica, quase sempre não se faz um estudo sobre elas. Para aquelas previstas no Missal, (de entrada e de comunhão), às vezes vemos sacerdotes recitando-as ora fora do momento litúrgico, ora sem a necessidade de recitação, em celebrações, pois, onde estão presentes os cantos que elas substituem. Também pode acontecer que tais antífonas sejam recitadas tão-somente porque estão no Missal, sem o conhecimento então de sua função litúrgica e ministerial.

 

Notas:

 

1ª) - Como os nossos cantos muitas vezes não cumprem a sua função litúrgica, por não estarem ligados ao tempo litúrgico ou às demais celebrações, por falta de cuidado dos responsáveis pela Liturgia, é justo pensar, salvo melhor juízo, que não fere a Liturgia a recitação das antífonas do Missal, mesmo sendo cantados também os cantos de entrada e de comunhão, dada a riqueza dos textos antifonais, que viria então suprir a pobreza de tais cantos.

 

2ª) - Na prática litúrgica da missa, sabemos que o que aqui se afirma, sobre as antífonas, não é de fato observado, como seria desejável. Como as antífonas são uma riqueza da liturgia latina, não se trata então - digamos - de norma jurídica a ser observada, em rigorismo litúrgico, mas de princípio salutar da Liturgia, que não pode ser descuidado.

 

As antífonas na Liturgia das Horas

 

8 - Na Liturgia das Horas, a aplicação das antífonas é mais vasta que a da missa, dados os diversos momentos da liturgia diária. Aí, cada salmo tem a sua antífona, que deve ser recitada ou cantada também por aqueles que rezam a sós. Além disso, também os cânticos evangélicos têm antífonas próprias. Na salmodia da Liturgia das Horas e nos cânticos evangélicos, as antífonas são recitadas ou cantadas no início do salmo e no fim, após o “Glória ao Pai...”, onde se percebe então, com grande vivacidade, seu valor litúrgico, dada a diversidade e a riqueza de temas.

 

9 - Para aplicação concreta do que acima se diz, com referência à Liturgia das Horas, tomemos como exemplo as antífonas da salmodia das I Vésperas do 1º Domingo do Advento, como desse domingo foi tomado o texto das antífonas da missa, como exemplo. Aí vamos encontrar, no início, pois, do Ano Litúrgico, sentido exortativo e afirmativo sobre a vinda do Senhor, caracterizado pelo Tempo do Advento. Para a salmodia, temos então: Ant.1: “Anunciai entre todos os povos: Eis que vem nosso Deus, Salvador”. Ant. 2: “Eis que vem o Senhor com seus santos, e haverá grande luz nesse dia. Aleluia”. Ant. 3: “O Senhor há de vir com poder, todo homem verá sua glória”. Ainda para as I Vésperas temos a antífona para o cântico evangélico, Ano A: “Vigiai, diz Jesus, vigiai, pois no dia em que não esperais, o vosso Senhor há de vir”. Aqui, pois, a afirmação bíblica do sentido de vigilância, próprio do Advento. Notemos ainda que os exemplos aqui tomados são apenas para um dos momentos da Liturgia das Horas do referido domingo.

 

Os cânticos bíblicos na liturgia das horas

 

10 - Para a I e II Vésperas, na Liturgia das Horas, a salmodia é composta de dois salmos ou partes de salmos, e de um cântico do Novo Testamento, este tomado ora das epístolas, ora do Apocalipse. Não confundir, porém, este cântico com o cântico evangélico propriamente dito, o Magnificat, de Lc 1,46-55, que vem depois da leitura bíblica, em todos os dias. Na salmodia das Laudes (Oração da manhã), para todos os dias, o segundo texto é sempre um cântico bíblico do Antigo Testamento, e o cântico evangélico, para depois da leitura bíblica, é sempre o Benedictus, de Lc 1,68-79. Já para as Completas (oração da noite), o cântico evangélico, que vem depois da leitura breve, é sempre o Cântico de Simeão (Nunc Dimíttis), de Lc 2,29-32. Como já foi dito neste trabalho, todos os cânticos bíblicos vêm acompanhados de suas respectiva antífonas.

João de Araújo

BIBLIOGRAFIA

 

- IGMR - Instrução Geral sobre o Missal Romano

- IGLH - Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas

- Dicionário de Liturgia - Paulus - Diversos Autores

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